A imprensa brasileira e mundial reproduziu o discurso da extrema direita quando criticou o recebimento do Presidente da República Bolivariana da Venezuela em território nacional, com honras de Estado ofertadas pelo Presidente Lula. As críticas quais sejam contra o governo venezuelano, não podem ser fundamentadas sobre a premissa falsa da existência de uma ditadura naquele país, muito menos, na retórica de que o governo venezuelano é aliado do narcotráfico.
Primeiro quero debater estes pontos centrais que sustentaram as argumentações que rechaçaram o governo brasileiro, inclusive incentivando 2 presidentes sul-americanos a reproduzirem parte das interpretações. Como afirmar a existência de uma ditadura na Venezuela? As liberdades políticas foram sequestradas? Os direitos de mobilização e fala foram sequestrados? A liberdade de ir e vir foi sequestrada? As eleições sobre a premissa da lógica burguesa foram suspensas?
A reposta para todas essas questões são não. Se respondemos desta forma como afirmamos a existência de um ditadura na Venezuela? Esse é um questionamento que precisa ser feito e debatido pela sociedade para não ficarmos a reproduzir interpretações equivocadas da realidade objetiva. Isso, significa meu apoio ao desastroso governo de Maduro? Não. Muito em virtude deste reproduzir uma autocracia populista, muito distante de uma experiência realmente de esquerda, mais próxima das experiências governamentais autocratas promovidas pelo capitalismo.
No mundo outros autocratas governam nações, nem por isso são equiparados a ditadores, exclusivamente em virtude de suas posições de apoio aos interesses políticos, bélicos e econômicos dos estadunidenses. Se não temos uma régua que enquadre todos, não é justificável a adoção dessa designação apenas para um país que se autoproclama antiestadunidense, enquanto as autocracias liberais são tratadas com respeito, pela imprensa.
Quanto a ligação do governo com o narcotráfico é um descabimento ler jornais sérios reproduzirem uma acusação sem nenhuma prova, a não ser declarações de oposicionistas que arquitetaram um golpe de estado, não consumado em virtude do exército de Bolívar e o povo não ter sido seduzido pelos encantos estadunidense. Após a derrota do golpismo, revoltada apontou a acusação de governo narcótico, para ampliar os ataque que se estruturaram com as duas ordens executivas dos EUA que de forma crescente estrangularam a economia venezuelana, dependente do petróleo cru, pois até suas refinarias foram construídas em território que tutelou o país por anos, os EUA.
O pior que a direita e extrema direita fazem essa acusação ao Maduro, porém a cocaína foi encontrada no avião presidencial de Bolsonaro, nem por isso posso afirmar que o ex-presidente do Brasil é aliado ao narcotráfico. Qual prova efetiva que possui os estadunidenses do comprometimento do governo com a produção, distribuição ou armazenamento do pó branco, tão desejado nas ruas estadunidense.
As deferências promovidas pelo Itamaraty ao presidente venezuelano foram acertadas. O Brasil, em 2019, rompeu as relações diplomáticas com a Venezuela, a mando de Trump. Ao reestabelecer as relações políticas, econômicas e sociais com o país de Bolívar, como o fez o governo brasileiro, nada mais adequado do que demonstrar o efetivo interesse brasileiro de reaquecer as transações entre os países e sustentar publicamente o gesto de mudança no olhar sobre a Venezuela. País com muita importância política no trato regional.
O restabelecimento das relações com a Venezuela é extremamente importante para Roraima. Alguns aspectos centrais sustentam essa minha afirmação. A retomada de Guri para barateamento da energia é um deles. O segundo é a possibilidade do desenvolvimento de ações conjuntas no combate ao garimpo no território yanomami que se dispersa pelos 2 países. O terceiro diz respeito a tentativa de manutenção do comércio existente a partir de Roraima que deve sofrer redução com a entrada dos EUA e Europa na compra de óleo e venda de produtos industrializados.
A Venezuela vive uma grave crise política e econômica, as quais foram potencializada pelo embargo econômico capitaneado pelos EUA e Espanha, além da acirrada disputa política pelo controle do petróleo. Quem sofre com o quadro de desordem pública, após a tentativa de golpe, é a classe trabalhadora venezuelana que ante a inflação viu sua capacidade de viver suprimida por atos isolados de países que chegaram a impedir a entrada de insumos na pandemia da Sars-Cov-2.
Enfim, a Venezuela é importante no reestabelecimento da ordem democrática e multilateral em nossa parte do mundo, onde as narrativas fundamentadas em interesses políticos e econômicos das grandes potenciais precisam ser combatidas abertamente pelo Estado brasileiro. A integridade das nossas nações é fundamental a consolidação dos rumos que queremos para melhorar a qualidade de vida de nosso povo. Portanto, não haveria espaço em continuar a conclamar a unidade dos países sul-americanos e manter a Venezuela isolada. Em minha opinião acertou Lula.
VENDE PÁTRIA
Quem não acertou nadinha foram dois deputados de extrema direita que enviaram ofícios a embaixada dos EUA solicitando intervenção deste país, em solo brasileiro, para prender Nicolas Maduro. Uma dúvida que tive é a incidência de crime, pois como cidadão ou cidadã pode qualquer pessoa solicitar intervenção de outro país, mesmo que o ato seja ilegal. Quando o ato é cometido por um parlamentar que jurou a Constituição deve responder no conselho de ética e ser imediatamente afastado de suas funções.
PL 490
Ontem, a câmara dos deputados aprovou esse projeto de Lei que possui em seu fundo o ódio de classe. Durante as falas ficou claro o desejo da maioria dos congressistas em proteger interesses de fazendeiros em detrimento aos direitos indígenas estabelecidos na Constituição Federal. O objetivo central consiste em dificultar novas demarcações, além de abrir possibilidades de revisão de terras já demarcadas. No entanto, outras pautas fomentam o ódio de classe ao autorizar mineração, garimpo e outras intervenções públicas sem consulta alguma às comunidades indígenas. A luta é o único caminho que resta para interromper os ataque inconstitucionais que compõe o escopo da proposta. Em tempos de acirramento de víeis ideológico que coloca no campo de disputa a extrema direita em aliança com a direita e de outro lado a centro-esquerda em aliança com a esquerda, a proposta apresentada não possui fulcro na sua aprovação, mas, na mobilização do campo para atos convocados pela extrema direita brasileira.
ENERGIA CARA
A região norte do país deve ter um reajuste médio de 17,6% na conta de energia para a classe trabalhadora. Esse percentual foi anunciado, ontem, por Sandoval Feitosa que é diretor geral da ANEEL – órgão criado para regular o mercado de energia, porém uma composição com representantes deste mercado possui como característica central a proteção dos interesses empresariais ante os interesses do povo brasileiro. Nossa região norte é a que possui a tarifa mais cara do país. Isso ocorre em virtude de terem sido construídas hidrelétricas, apesar da insustentabilidade técnica da maioria das obras realizadas, para mandar energia para o centro sul do Brasil, não para atender os interesses elétricos de nossa região. Roraima que possui termoelétrica, movidas por combustível fóssil que precisa ser deslocado pela abandonada BR 174, deverá ter o maior reajuste. Cada vez mais precisamos do retorno do fornecimento da energia de Guri, mas a classe política de Roraima não quer esse caminho, mesmo que diminua o valor da conta de energia aos trabalhadores. Pois, querem manter a arrecadação alta de ICMS sobre o combustível usado na geração de energia pelas térmicas, no intuito de manter seus privilégios e os inúmeros cargos comissionados.
CÚPULA SUL-AMERICANA
A reunião que envolve os países da América do Sul é um passo importante na retomada do processo de aproximação das nações. Essa relação havia sido muito abalada em virtude da ascensão ao centro do poder de líderes que preconizavam um alinhamento com o governo estadunidense, ao invés de fortalecer as relações regionais. Além disso, temos as ações orquestradas pelos EUA contra países da região que promoveram uma divisão ideológica com base na narrativa do bem contra o mal. O encontro possibilita que novos ares comecem a soprar na região, especialmente em virtude das tensões bélicas que crescem no mundo, opondo os interesses imperialistas dos EUA, aos interesses imperialistas de outras nações. A unidade dos países é fundamental para que afastemos as interferências de outras nações e possamos projetar ações estruturantes que permitam a melhoria da qualidade de vida do nosso povo, com o devido respeito ao meio ambiente e a garantia de direitos fundamentais à vida dos sul-americanos.
Bom dia. Um forte abraço.
Fábio Almeida
Jornalista e Historiador.
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