Amanhã comemoramos um dia de luta. Apesar das entidades trabalhistas almejarem em seus eventos apenas a festividade da data – lógico que precisamos comemorar como trabalhadores e trabalhadoras – no entanto é necessário compreender que as conquistas foram fruto de muita luta entre o capital e o trabalho. Portanto, nossas conquistas devem ser por essência relembradas, caso contrário caem no esquecimento da reescrita da história, onde o certo era a exploração do capital, não a luta por dignidade dos trabalhadores.
Durante o século passado, após conquistas de direitos, conseguimos levar nossos trabalhadores a um outro patamar de vida, garantindo-lhe por meio de movimentos paredistas, boicotes e embates políticos o direito a férias e descanso semanal remunerado, décimo terceiro salário, cota parte do patrão no financiamento da previdência, auxílio doença, aposentadoria aos 35 anos de trabalho se homem e 30 se mulher entre inúmeras outras conquistas. Isso! A base de muito sangue de nossas lideranças, pois na época os trabalhadores que faziam essas reivindicações eram chamados de comunistas, uma tática ideológica que vemos nos dias atuais sendo utilizada para várias disputas do povo.
No Brasil, a palavra comunismo se transformou em uma espécie de xingamento, a fim de garantir interesses de reacionários que representam parcelas da burguesia nacional que almejam dilapidar conquistas do povo, a exemplo do que querem fazer com a criminalização de movimentos sociais e ampliar a retirada de direitos dos trabalhadores, como já fizeram com a reforma trabalhista aprovada em 2017, Lei 13.467, que entre outras coisas deixou de considerar tempo de trabalho a colocação de uniforme ou a higiene pessoal durante a jornada de trabalho.
Vivemos tempos de grandes transformações, a cada dia o desenvolvimento tecnológico potencializa processos de automação e robotização dos processos de trabalho, ao piscar dos olhos deixamos de ter importância no processo de produção capitalista, unicamente em virtude da desnecessidade da mão de obra humana para ampliar o lucro, objetivo central de todo capitalista. Nesta conjuntura o mundo do trabalho encontra-se sob ataque, devendo seu coletivo representativo impor uma agenda de lutas que promova não apenas a manutenção de conquistas já alcançadas, mais também, avanços necessários a garantia de melhores condições de vida para aqueles que necessitam vender sua força de trabalho em busca de garantir mínimas condições de sobrevivência, além de possibilitar mais acumulação de capital aos donos dos meios de produção.
Retomar a pauta econômica é fundamental a luta dos trabalhadores. Não podemos transformar nosso processo de disputa do modelo de Estado, apenas na disputa por melhores salários. Acertadamente o movimento sindical tomou uma posição correta em apoio a reforma tributária, apesar de seu teor central continuar a não definir taxação dos mais ricos, a proposta apresentou ganhos importantes em torno de uma redefinição da carga tributária, beneficiando principalmente os trabalhadores de menor renda, os quais compõe a maioria de nossa classe, recebendo um salário mínimo de remuneração. No entanto, qual o ganho efetivo se esse debate não permeou os elos que formam as nossas bases sindicais. Esse é um tema político tão importante quanto o salário.
A disputa pelo orçamento público é outra necessidade que nós trabalhadores precisamos pautar como central ao pleno desenvolvimento de nossas vidas. Isso, em virtude de a cada ano o capital – ou o que definem como mercado – abocanhar fatias cada vez maiores dos recursos públicos que deveriam ser destinados a prestação de serviços de saúde e educação pelo poder público. Apesar do atual governo ter reordenando o espaço das despesas primárias – onde não se computa as despesas financeiras – com o que se denominou “novo arcabouço fiscal”, continua a figurar como uma peça administrativa do orçamento de viés liberal, algo nocivo ao conjunto dos trabalhadores.
A defesa de uma educação, saúde e saneamento de caráter público e de qualidade consiste em uma posição política que há muito tempo saiu dos debates centrais do movimento sindical, o qual foi transformado quase que por completo em um ramo da disputa salarial e negociação de planos sejam oferecidos pela rede privada de educação e saúde. Sei que esse embate de classe, no tocante a remuneração, é fundamental. Mas, não pode se transformar em uma pauta exclusiva dos movimentos, os quais para não perder a crista da onda potencializam um mínimo debate sobre as mudanças climáticas, no entanto, de forma superficial, sem pautar questões centrais sobre as condições de vida da classe trabalhadora. As mudanças no clima exigem de nós trabalhadores uma posição unificada, tendo em vista que as grandes corporações já tomaram conta do debate, portanto, é primordial que trabalhadores e trabalhadoras entrem nesse debate sob a ótica da garantia da qualidade de vida a quem vende sua força de trabalho, tendo em vista que não podemos ser nós os penalizados com as transformações que virão.
A ascensão do novo governo trouxe uma nova perspectiva política, fugimos da autocracia que se forjava no território nacional. O apoio da maioria dos trabalhadores e trabalhadoras a eleição do Lula, não pode significar na prática em um adesismo ilimitado. As ferramentas do povo em disputar o Estado precisam ser aguçadas, a exemplo do que fez neste mês de abril o movimento indígena e os sem-terra que contrapõe abertamente a teoria da composição liberal entre o povo e os burgueses, tendo como pano de fundo a descontinuidade de direitos, em nome do combate ao protofascimo cristão protagonizado por Bolsonaro e seus apoiadores.
A aliança política ampla para vencer o viés autocrata de grande parte da oposição ao governo Lula não pode ser encarada como a subjugação da disputa do estado que queremos. Se essa premissa continuar a ganhar corpo veremos ao decorrer dos dias, o sol continuar a brilhar apenas para uma parte pequena de nosso povo, como ocorre historicamente. A luta para levar ao centro do poder político, o atual presidente, foi fundamental a garantia dos preceitos democráticos inscritos na Constituição, mas, temos um governo, como afirmou José Dirceu, de centro direita, representado pelo apoio do União Brasil, Republicanos, Cidadania e PSD que ao anoitecer de ontem estavam ao lado da máquina autocrata que ocupava o palácio do planalto e impôs retrocessos imensos na garantia de direitos do povo.
Portanto, o primeiro de maio de 2024 deveria ser além de um momento de festa, um grande grito de liberdade do movimento operário em torno da consolidação de um Estado que proteja seu povo, garanta direitos e permeie políticas de valorização humana. As ruas deveriam gritar contra o protofascismo, mais também, contra o liberalismo que avança sobre as vidas de nosso povo, transformando-os a cada dia numa empresa individual, sob a lógica de que isso representa “liberdade”. Não há liberdade ao povo sem a garantia de direitos basilares à vida e que são teimosamente inscritos no artigo 5º da nossa Constituição. Se não entendemos essa realidade da disputa política contribuiremos com a construção de nosso cadafalso, já que a burguesia nacional consolidou seu espaço político institucional em nossos parlamentos, cada vez mais sem representação do trabalho. Por que será?
Alto Alegre
No último domingo os moradores do município elegeram para um mandato tampão o senhor Wagner Gomes (Republicanos), para exercer o cargo de Prefeito até o dia 31/12/2024. Desejo sucesso ao mandatário, porém compreendo que seus compromissos políticos levarão a gestão a continuar a proliferar denúncias de corrupção, algo que acompanha a administração pública alto alegrense na última década. Ao término do pleito vimos que as disputas eleitorais, mantidas a mesma conjuntura política, com Denarium governando Roraima, será eivada de ilegalidades, com o uso explícito e implícito da máquina pública na conquista de espaços representativos, tanto no executivo, quanto no legislativo. A fotografia eleitoral protagonizou, por meio do flash da exclusividade da eleição extemporânea, que a força dos recursos públicos serão fundamentais na definição dos resultados, com isso, Denarium aproximará mais bajuladores que almejarão contar com as incontáveis cestas básicas como ferramenta na troca de voto. Na realidade não foi o governador, Cassado, o vitorioso, mas sim, um modelo de disputa eleitoral que se organiza por meio da mescla de uso de grana pública e privada no convencimento do voto, relegando aos que não participam desse processo a exclusão de programas sociais. O resultado será trágico, pois isso é crime, e todo poder conquistado sob o prisma da criminalidade caminha para oprimir o povo.
Bomfim
Um magistrado de Roraima deve ter sido surpreendido com seu pai sendo preso por corrupção, na última sexta-feira. Sei que não existe relação alguma que estabeleça comprometimento do juiz com a prática de seu pai, no entanto, o fato demonstra claramente como o crime se aproxima das estruturas do poder no país. Mais uma vez o protagonismo da corrupção veio do município de Bomfim, nos últimos 7 anos, várias são as denúncias de malversação de recursos públicos naquela localidade, sem que a justiça apresente à sociedade punições aos desmandos existentes. Foram quase R$500 mil reais encontrados com os 3 envolvidos e presos pela polícia federal por fraudarem licitações. Esse valor representa cerca de 5,32% de todas as transferências constitucionais realizadas pelo governo federal em 2024 e 86% de todo o FPM transferido no mês de março. A sociedade roraimense necessita firmar um pacto em torno do combate a corrupção, não podemos admitir que recursos públicos que possam melhorar atendimento de serviços de saúde ou educação estejam servindo para whisck e picanha.
Grana apreendida
Na última sexta-feira, o senadozinho Mecias de Jesus, teve apreendido em um de seus veículos o valor de R$50 mil. A polícia federal realizou a abordagem após ter recebido uma denúncia de compra de votos, na eleição extemporânea de Alto Alegre. Segundo informes o parlamentar havia afirmado que os recursos seriam direcionados ao pagamento de uma terra que havia arrendado na localidade de Samaúma, vila no município de Mucajaí que faz divisa com o município de Alto Alegre, por meio da RR325. No entanto, algumas perguntas devem ser respondidas no inquérito. A primeira delas é a origem dos recursos, se pertencem ao senador da república foram sacados de onde? A segunda delas é a localidade arrendada pelo parlamentar é terra legalizada ou fruto de grilagem que pipoca pela região? A terceira pergunta a ser respondida diz respeito se a terra possui alguma relação com o garimpo criminoso na TI Yanomami? Tendo em vista que a localidade é um dos principais centros de suporte aos garimpeiros. Será que temos pista de pouso na terra arrendada por Mecias de Jesus? Só as investigações dirão, pois ele estava ao lado do presidente da Câmara de Vereadores de Boa Vista, denunciado por tráfico de drogas.
Sampaio
O presidente da Ca$a Legi$lativa concedeu uma entrevista ao panfleto radiofônico da direita roraimense que vai ao ar aos domingos pela manhã para tratar especificamente das suas últimas posições políticas. Estranhamente o parlamentar que exerceu a função de líder do governo, na ALE/RR, e chefe da casa civil de Denarium (PP), o Cassado, teceu críticas a priorização do governo em fortalecer grandes produtores de grãos, em detrimento da agricultura familiar. A fala é demagógica, pois como líder do governo Sampaio contribuiu diretamente para fortalecer essa proposta econômica que sobrepujou todas as outras, inclusive o turismo. Em outra fala demonstrou inveja ao chamar o governador de popstar, em virtude do plano de visibilidade idealizado pelo marqueteiro do governador.
No entanto, Sampaio aproveitou a entrevista para se deslocar de Denarium, acusando-o de intransigente e de que abandonou os acordos políticos e não escuta mais ninguém. Afirmou, o parlamentar, sua intenção construir outro caminho e almeja uma aliança com os 129 empresários que ajudaram Denarium em 2018 a chegar ao governo de Roraima. Na prática tenta Sampaio se consolidar como um nome interlocutor de Lula em Roraima, ao tempo que procura angariar apoios em torno de seus projetos pessoais para disputar um cargo executivo, chegou inclusive a lançar o nome a uma provável candidatura ao Senado em 2026, cargo que é interesse de duas raposas velhas, Mecias e Jucá. Defendeu abertamente Chico Rodrigues (PSB) defenestrado pela máquina de moer gente de Denarium.
Seu destino político será migrar para o PDT , buscando se consolidar como a principal referência de Lula. Apesar da força de Bolsonaro no Estado, o atual presidente, demonstra uma capilaridade eleitoral importante, com cerca de 26% dos votos válidos no segundo turno das eleições de 2022, percentual que já deve ter avançado um pouco. Após sair da centro-esquerda e migrar ao bolsonarismo, Sampaio tenta dar uma reviravolta e consolidar-se como uma representação do que se denomina progressismo. Ante a fragilidade dos partidos deste campo não será difícil sua escalada política. Não sei apenas se a oligarquia local deixará que esse caminho seja fácil, pois o telhado do parlamentar é de vidro e dentro da casa existe muita coisa federonta escondida.
Dengue
Chagamos a 4 milhões de casos confirmados de Dengue e quase 2 mil mortes. A doença é transmitida pelo Aedes aegypti também responsável pela transmissão de outros agravos. Porém, precisamos como sociedade compreender que a proliferação do vetor é fruto da desigualdade de renda e riqueza existente no país e da ineficiência na gestão dos resíduos sólidos. A primeira assertiva fundamenta-se na dificuldade de acesso aos serviços das redes de distribuição de água. Em virtude dessa situação milhões de brasileiros precisam acumular água, em virtude de déficits existentes no setor de saneamento, ampliando desta forma os criadouros do mosquito. Já a segunda proposição é fruto de uma sociedade que gere mal os resíduos sólidos gerados, vários são os depósitos irregulares de recipientes com potencial para proliferação do vetor. Portanto, enfrentar o Aedes aegypti impõea necessidade de novos investimentos públicos, especialnente no acesso da população aos serviços, os quais piorarão muito com a onda de privatização que cresce no setor de saneamento.
Outro ponto fundamental para se avaliar essa atual crise consiste na observação do desfinanciamento que o setor de saúde teve durante o governo de Bolsonaro. O combate as endemias é uma atribuição dos municípios brasileiros, porém durante 4 anos o setor de vigilância em saúde do SUS sofreu com cortes de recursos, especialmente durante a pandemia do SarsCov2. Os 2 anos de pandemia contribuíram diretamente ao processo de infestação do vetor, cujos ovos chegam a ficar em condições de proliferarem ao contato com a água entre 300 e 400 dias. Ou seja, um ovo depositado hoje poderá eclodir em junho de 2025, essa realidade deixa claro que o combate ao vetor vai muito além das visitas domiciliares, precisamos de educação em saúde, sem isso, não conseguiremos avançar na eliminação da circulação da dengue em nosso país.
Abuso militar
Mais um profissional da educação reclama de arbitrariedades cometidas por militares dentro de estabelecimentos de ensino em Roraima. Conforme apresentado em uma rede social, a pessoa foi impedida de sair do estabelecimento de ensino pelo portão principal da escola Severino Cavalcante. O profissional de segurança que ali se encontrava, mesmo vendo que se tratava de uma pessoa com deficiência impôs a ordem de seu superior, um coronel, afirmando que apenas este autorizaria a saída as 11:50h.
Muitos podem pensar que isso é uma balela, no entanto, reproduz um modus operandi que se estabelece em nossos estabelecimentos de ensino com a política de militarização das escolas implementada pelo governo do estado. A lógica de aquartelamento imposta aos profissionais da educação e ao corpo discente não possui pedagogia alguma, ampliando conflitos internos que estabelece uma grande movimentação de alunos, docentes e técnicos da área de educação que não suportam os abusos cometidos.
Esses abusos refletem a política de formação profissional e uma cultura ideológica que se estabeleceu no seio da corporação militar, após o desastroso governo de Bolsonaro, onde as policias acreditam possuir todos os direitos sobre a vida das pessoas, relegando ao conjunto da sociedade uma postura intolerante ante as situações que surgem. Esse quadro se agrava quando ocorre dentro de um estabelecimento de ensino.
Conforme o denunciante vários são os abusos existentes na escola, chegando inclusive a afirmar que em determinada vez um representante da polícia abaixou as calças de um aluno. A militarização das escolas é um dos maiores erros cometidos pela sociedade roraimense que permitiu essa política, baseada na opressão como ferramenta de controle de uma determinada “violência” que se disseminava nas salas de aula, lógico que a retórica nunca foi apresentada de forma estatística. Caso fosse algo generalizado deveríamos encontrar outros caminhos, não colocar policiais em nossas escolas, os quais recebem 25% a mais em seu salário para não atuar no combate a criminalidade, mas colocar nossos jovens sobre a batuta da opressão.
Bom dia com alegria.
Fábio Almeida
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