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Foto do escritorFabio Almeida

21/02/2022

A última semana inseriu a educação pública de Roraima no centro da crise histérica das hordas bolsonaristas e suas estruturas de robôs que entopem pessoas com informações, muitas das quais claramente inverídicas, outras completamente deturpadas para atender a disseminação do ódio que marcam a construção política do protofascismo encabeçado por Bolsonaro.

O fato surge na mesma semana em que Bolsonaro reuniu-se com Viktor Órban, Primeiro Ministro da Hungria, afirmando que eles possuíam muita simetria em pensamentos, quanto a construção de uma sociedade homogeneizada, pelos princípios que fundamentam a formação ideológica de ambos, baseada principalmente em 3 perspectivas:

a) A família como princípio de construção social. Acredito que essa é uma perspectiva socialmente reconhecida por todos. A distinção entre o pensamento bolsonaristas e vários outros segmentos da sociedade, consiste na definição do que vem a ser da figura sociológica da família. A família idílica se forja apenas pela convivência de um homem e uma mulher, tendo a mulher um papel de subjugação aos interesses do “macho”, essa é a forma de conjunção familiar reverberada por Órban e Bolsonaro. No outro lado temos uma concepção que a família se forja a partir de múltiplas formas, sejam elas entre pessoas de sexos opostos ou não, as vezes se constitui por uma pessoa com outras sem laços de parentesco algum, com a presença de crianças e adolescentes ou não. A concepção de família na sociologia se estabelece pela representação de agregação de indivíduos, ausente desta forma dos princípios bíblicos, os quais devem ser seguidos por que professa essa orientação religiosa, não pela sociedade.

b) Deus é visto por ambos representantes como uma fundamentação única, descartando-se outras formas de configurações sociais da divindade. Essa focalização se estabelece essencialmente não na crença em um salvador como apresenta o cristianismo, defendido pelos dois fascistóides, mas na relação de subjugação que as determinações religiosas podem impor ao povo. Não é necessariamente o amor ao próximo pregado pelo cristianismo que norteia a concepção de Deus dos signatários dos Estados Nações, mas sim, a capacidade de mobilização pelo ódio ao diferente que oportuniza a submissão a dogmas. Situações vivenciadas muitas vezes, desde a fundamentação da religião como estrutura do Estado, na antiga Mesopotâmia.

c) Pátria é uma outra fundamentação sociológica importante no pensamento de ambos fomentadores do ódio e da opressão. A consolidação de um Estado único e homogêneo é essencial as aspirações doentias destes dois escroques, que almejam pela concepção da consolidação da pátria sob princípios religiosos para extirpar os diferentes, ou mesmo as formas de organização do povo. A mobilização da nação contra os inimigos internos e externos dos dogmas cristãos, representados por seus desejos familiares, impõe a construção de uma sociedade guerreira, em constante ameaça, impondo, desta forma, uma mobilização permanente na defesa dos interesses coletivos desta hegemonia opressora, inclusive de membros da família e seguidores de Deus.

Apresentei essas premissas para que pudesse dialogar com vocês sobre o acharque imposto a um docente da escola Camilo Dias, por meio da divulgação nas redes sociais de um vídeo, sem autorização de uma das partes, editado para promover combustão nas premissas ideológicas da família, pátria e Deus, defendidas pelo bolsonarismo.

Inicialmente é importante salientar a que ponto podemos permitir, nesta era tecnológica da disseminação de computadores de mão, a exposição sem autorização de pessoas. Essa é uma questão fundamental ao convívio social e a saúde mental. É aceitável que sejamos filmados e tenhamos posições, posturas e atos expostos sem autorização, em minha opinião não. A nossa exposição pública impõe claramente a necessidade de autorização, quando exposta por terceiros, principalmente quando o fundamento desta exposição é criar uma narrativa, baseada na teoria da pós-verdade, para fundamentar retrocessos sociais.

Minha posição excluiu o processo de trabalho de jornalistas, porém vinculo-a claramente a apuração do cometimento de crime, previsto no código penal brasileiro, principalmente ante as arbitrariedades cometidas pelos abutres que exercem funções como agentes públicos. Mas, os fatos divulgados criminosamente por apoiadores da tríade defendida por Bolsonaro e Órban, referente ao docente, não se enquadra em crime, pois o diálogo entrecortado não permite a concepção do contexto da aula. O foco essencial é retirar a liberdade de cátedra, atingida hoje duramente no governo húngaro e já combatida pelo Governo Bolsonaro, não esqueçamos as falas de Ricardo Vélez Rodrígues.

Um dos principais alvos da rede bolsonaristas, não é o professor exposto a barbárie da defenestração social, mas sim, combater a liberdade de cátedra. Para Bolsonaro e sua horda a escola tem que ser o local da disseminação de um pensamento único, idealizado por sua compreensão de mundo e seus dogmas. Posições distantes da liberdade de cátedra que possibilita ao professor questionar o aluno “o que é uma pessoa de bem? ”, quando este afirma que o cidadão de bem possui o direito de andar armado. Ao obter a resposta que o cidadão de bem é aquele que possui família, corretamente o professor salienta, mais o bandido também possui família.

O professor ao expor essa concepção não busca transgredir nenhum conceito sobre família como enaltece a rede bolsonaristas, ante os vídeos criminosos filmados na escola Camilo Dias, mas pontuar que o critério de família não pode ser utilizado para considerar o mau e o bom, conceitos inclusive fruto de uma percepção religiosa, fundamentada na dualidade da briga eterna entre Satanás e Deus. Disputa essa que no plano terreno, muitas vezes, um negro andando pela rua é visto como mau a ser abatido, já o branco armado é visto como bom protetor da verdade.

A cátedra, afirma Paulo Freire e outros teóricos da educação, só se formula como tal quando fomentada a partir da realidade objetiva dos envolvidos e quando permite o contraponto de conceitos preexistentes que possam fundamentar novas reflexões, consequentemente a produção de conhecimento. Assim, agiu o professor, filosoficamente quando propõe ao discente pensar quem define o que é ou não é crime. Principalmente quando se quer debater diante deste processo social quem responde por crimes neste país.

Recentemente vimos um suplente a vaga de Deputado Federal, onde militam integrante do partido da igreja Universal, entrar na penitenciária agrícola, acusado de estupro e não ter o cabelo raspado, procedimento obrigatório a todos os detidos. Será que se esse acusado de estupro fosse um trabalhador estaria nas ruas solto, principalmente ante duas outras acusações de abuso de menores. O Estado, fundamentado em Leis, conforme preconiza a burguesia, serve aos interesses de quem? Esse é um tema de construção de conhecimento a ser debatido em nossas salas de aula. A pátria defendida pelos bolsonaristas querem temas como esse longe dos estabelecimentos de ensino, pois raciocínio é “ruim para o povo”, pois este pode contrapor o Estado de privilégios existentes para poucos.

A guisa de concluir esse olhar trago uma impressão muito complicada sobre o assunto. Consiste na deturpação da fala para que possa o argumento ideológico ser tomado como verdade. O vídeo viralizado pela imprensa, blogs, contas nas redes sociais afirmam que o professor diz que roubar é trabalhar, quando o professor em sua fala diz “para ele isso é trabalho”. Daí afirmar que o professor faz apologia ao crime é buscar reescrever o contexto sobre uma narrativa que passa a ser a verdade absoluta, mesmo o áudio demonstrando outra coisa.

Erra o professor? Não! O trabalho justifica-se socialmente no modo de produção capitalista como meio de sobrevivência, tendo como principal ferramenta a venda da força de trabalho, para o ladrão que rouba uma carteira, um carro de luxo, ou mesmo recursos da saúde pública aquilo é um trabalho. Devido nosso contrato social essa modalidade de sustentação econômica é considerada crime, mais sociologicamente é trabalho.

De forma alguma essa visão consiste em fazer apologia ao crime como afirmam os bolsonaristas e a imprensa, apologia ao crime faz quem defende a atuação de milícias em territórios de nossas cidades Apologia ao crime faz que defende o garimpo em terras indígenas. Apologia ao crime faz quem afirma que mulher existe para apanhar e se submeter aos desejos do homem. Apologia ao crime faz quem estabelece a retórica da defesa pessoal por meio da disseminação de armas, ampliando opressões e extermínio de vidas como a ocorrida com Durval Teófilo Filho, recentemente no Rio de Janeiro.

Neste contexto devemos primar pela garantia da perspectiva de reserva do direito de imagem e áudio de qualquer um de nós, a acreditação social do direito de exposição do outro, sem autorização, não pode ser uma construção social admitida. Aos que hoje defendem tais atos, podem amanhã ser vítimas, seja hoje ou amanhã, seja à esquerda ou à direita, precisamos compreender que o direito de imagem é privado, não público. Relativizar essa questão numa sociedade midiatizada como a nossa, poderá construir legitimações aniquiladoras de pessoas.

O Estado possui espaços adequados de questionamentos de seu ordenamento, institucional ou não, primemos por esses espaços para promovermos análises de fatos considerados errôneos. Nos distanciemos do fratricídio impostos pelas verdades absolutas, ou mesmo, das construções sociais baseadas em ideologias que cultuam o ódio e enaltecem o extermínio do outro, como o fazem Bolsonaro e Órban com a tríade Deus, Pátria e Família, sobre premissas idealizadas por eles e reproduzidas por instituições que só querem ampliar o poder, retomando o autoritarismo como ferramenta de opressão.

 

JALSER E O JULGAMENTO

Jalser é uma das figuras políticas do Estado mais prejudiciais ao nosso povo. Um dos parlamentares que transformaram o mandato, concedido pelo povo, em meios concretos de ocupação e manipulação dos espaços públicos para atender interesses privados. Acredito que merece ser afastado da vida pública e que responda com a justeza da Lei as acusações impostas a sua pessoa, como mandante de um bárbaro crime contra a vida de um jornalista. Os fatos em si e as provas que devem a comissão de ética possuir servem sim para justificar a cassação.

Jalser acerta em uma questão. O que fará a assembleia legislativa ante os 3 Deputados condenados por corrupção e que não tiveram seus processos de cassação encaminhados pela casa legislativa. Contribuo, nesta cobrança, apontando o que fará a ALE/RR ante um deputado que responde processo por estupro, outro por agressão a mulher e um membro da mesa investigado por corrupção na pandemia?

Eliminar da casa legislativa o Jalser é fundamental a bem da “coisa pública”, mas, outros males que por ali se acostam também devem ter seus processos iniciados e finalizados, com a mesma rapidez e eficiência dada ao caso do “menino de ouro”, caso contrário o princípio da legitimidade será questionado e a acusação de que a comissão de ética é tendenciosa será conferida de forma a desacreditar ainda mais a tão mal falada “casa do povo”, sem povo.

 

A TRAGÉDIA EM PETROPÓLIS E O LAUDÊMIO

Laudêmio consiste em um prêmio criado pela família real, em 1847, e ainda vigente na cidade de Petrópolis. A taxa de 2,5% do valor venal é paga por quem adquire imóveis em determinada área da cidade, direcionada a família real, por meio da Companhia Imobiliária de Petrópolis, administrada por herdeiros de Dom Pedro II. O mais ilustre representante desta elite que ainda se deleita com as benesses do Estado brasileiro – enquanto os indígenas não recebem nada pelo uso de suas terras – é o Deputado Federal Luiz Philippe Orleans e Bragança. A incoerência se estabelece no parlamentar se identificar como liberal, porém possuir como meio de sobrevivência uma taxa imposta pelo Estado brasileiro. Os liberais são contraditórios por essência, podemos observa isso na crise estrutural do capitalismo, todos os liberais foram socorridos pelo Estado, rompendo com sua retórica do livre mercado. O liberalismo defendido por eles consiste em retirar direitos do povo, ampliando suas benesses a exemplo do laudêmio pago aos invasores. Pelo pagamento do laudêmio aos indígenas imediatamente. Se os invasores podem receber, por que não os indígenas?

 

EUA X RÚSSIA

Não quero aqui debater a retórica da guerra, apesar da crise do capitalismo necessitar dela para refundar suas premissas de exploração. A questão é quais as consequências de um conflito na atualidade? Lembrando que desde o fim da segunda grande guerra os conflitos marcaram a vida de milhões de pessoas, sempre com o toque bélico estadunidense apoiando um dos lados, ou mesmo promovendo o conflito.

Quero aqui trazer duas questões essenciais ao debate político. A Rússia possui o mesmo direito de ampliar suas tropas e armamentos na fronteira com a Ucrânia, da mesma forma que a OTAN se acha no direito de ampliar efetivos e armamentos em direção à fronteira russa. Portanto, a lógica bélica continua a ser a retórica do capital em proteger seus negócios e ampliar a produção industrial com recursos de impostos pagos pelos trabalhadores que verão seus filhos morrerem.

A outra questão diz respeito ao reconhecimento da independência das Repúblicas de Donetsk e Lugansk, áreas separatistas que encontram sob apoio do poder bélico russo, para trilhar seus caminhos independentes da Ucrânia. Mas, os EUA denunciam a movimentação política de Putin, Presidente da Rússia, ocorre que os estadunidenses na Venezuela reconhecem como Presidente do país uma pessoa que não foi eleita para exercer tal cargo, usando como referência sua capacidade bélica constituída principalmente em território colombiano.

Enfim, ambos países conforme seus interesses atuam de forma a interferir nos problemas internos de países nacionais. Erra a Rússia, como errou os EUA em intervir em questões internas isoladamente, ambas demonstram suas aspirações imperialistas, em torno de ampliação do poder.


BOM DIA COM ALEGRIA

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