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Foto do escritorFabio Almeida

20/03/2023

O pio da Coruja Branca, conhecida popularmente como a rasga mortalha, ecoou ontem lá pelos lados do teatro municipal de Boa Vista, palco de poucas ocupações com apresentações locais, em virtude de um olhar equivocado da gestão cultural boavistense, a potencialização das produções locais.


A peça teatral Rasga Mortalha trouxe um olhar em torno da valorização da cultura e do povo ribeirinho. A lenda em torno do piar recheado de dor e sofrimento das famílias repercutiu não apenas a morte como tema central da peça. Possibilitou debates importantes em torno de temas entranhados na vida dos povos do interior e temas históricos.


Colocar no desenvolvimento da peça o massacre da praia de sangue impõe uma singeleza importante em torno de um tema que circunda o espectro das lendas, mais compõe uma história muito mal analisada pelos historiadores, ante as histórias do massacre de indígenas Paricarana, após os primeiros descimentos realizados na calha do rio Branco, no século XVIII.


A introdução dos temas históricos locais na formulação dos roteiros consiste em um outro ganho, fortalecendo a disseminação de temas importantes a construção de uma identidade cultural, histórica e sociológica, muitas vezes, ausentes de nossa formação cidadã. Em virtude de muitos assuntos não serem trabalhados em nossas escolas, principalmente quando vivemos a era da militarização dos estabelecimentos de ensino e da adoção da nova estrutura curricular do ensino médio, preconizando o empreendedorismo, em detrimento da construção do conhecimento.


O rufar do violino possibilitou que a dicotomia entre a vida na área rural e na cidade fosse levemente referenciada como uma contradição existente. A necessidade do andar, navegar ou voar para tentar sobreviver, um clamor da juventude, desesperada com a ausência de perspectiva e rivalizada pelo olhar dos mais velhos que em outros momentos fizeram o mesmo caminho e sofreram na pele a violência e a exclusão imposta pela cidade e seu tempo, sem tempo.


A violência contra a mulher também é apresentada, sutilmente, em duas passagens importantes. Na primeira sob o lamento de Madalena ao relatar seu sofrimento com espancamentos atribuídos com o ódio de gênero e a perspectiva proprietária que nos transforma no segundo Estado mais violento às mulheres. No segundo momento, quando Zé Moscado segura com violência Luciana – performance maravilhosa de Gabriel Sousa – e essa recrimina a forma como foi abordada. A plateia sorriu! Acredito que por ser fruto desta sanha machista de que o reclamar de uma mulher, deve ser visto como algo engraçado.


A sanha capitalista sobre as regiões é tratada de forma coerente, ao relacionar fatores que impõe uma cultura de violência e rompimento histórico junto as pessoas que moram no interior. Neste caso uma aliança entre empreendimentos financeiros e a política – nada distante da realidade vivida no interior de Roraima, especialmente agora pelos indígenas da TI Yanommai – levou a localidade do Uairi a força da destruição e da morte. Encontramos também, as estratégias de organização dos povos em defesa de sua vida, seu território e sua ancestralidade que não pode ser violada para atender interesses financeiros de colonizadores – essa uma contínua sanha vivida pelos povos da Amazônia.


O projeto Teatrando protagonizado pela FETEC merece o reconhecimento dos artistas e do público, pois é por meio do fortalecimento de nossos olhares sobre a criação de nossa arte que contribuiremos para melhorar nossa qualidade de vida e daremos um uso racional aos investimentos públicos que levantaram o teatro municipal, espaço que até pouco tempo atrás serviu de poleiro da coruja branca a piar ante a falta de incentivo ao teatro roraimense.

 

CADÊ O DINHEIRO DENARIUM

A Prefeita de Mucajaí em entrevista a uma rádio local fez acusações sérias contra o Governo do Estado que não repassa a mais de 4 anos os recursos para financiamento do Serviço Móvel de Urgência (SAMU). A implantação das ambulâncias, necessárias no interior do Estado, em virtude da centralização dos serviços de saúde na capital, promovido pelo Governador “caloteiro”, foi constituída, desde que Lula criou o programa, de forma tripartite. O Governo Federal entra com 50%, o Estado com 25% e o Município com mais 25%. Denarium, em virtude de a Prefeita não comer as sobras de seu pedestal, resolveu suspender os repasses, relegando gestantes, idosos, e crianças ao risco da morte.

 

CADÊ O DINHEIRO DENARIUM 2

Nesta mesma entrevista a Prefeita de Mucajaí também cobrou que o Governo do Estado conclua a obra – ou melhor retome a obra abandonada do hospital de Mucajaí. A maldade contra o mucajaiense é tão grande que há 4 anos iniciou uma obra no hospital, diminuindo as condições de atendimento e trabalho no hospital estadual. Ante essa realidade, deveria a SESAU fortalecer o processo de remoção, o que faz Denarium, corta o dinheiro das ambulâncias. Assim, em Mucajaí o hospital funciona parcialmente e a remoção é arcada sem grana do Estado. Roraima se afundando e Denarium regojizando.

 

TERCEIRIZAR POR QUÊ?

Tive a oportunidade de ler o processo da terceirização da gestão do HGR protagonizada pelo Governador dos ricos. A proposta chama atenção devido o Governador assumir claramente em seu Estudo Técnico Preliminar (ETP) que é um incompetente e precisa repassar a gestão para uma entidade privada. É notório isso ao olharmos que não é falta de dinheiro é falta de gestão, mais também outras coisitas que transformaram nossa saúde no caos que vivemos. Outra justificativa utilizada, por Denarium e sua Secretária de Saúde, é que com a terceirização poderão diminuir o custo dos profissionais de saúde. Escreveram isso, quando li não acreditei, mas essa é a realidade de governos privatistas, impor no serviço público o nível de exploração do setor privado. Sobrará mais dinheiro para renúncias fiscais aos adoradores de chifres.

 

MAIS MÉDICOS

O Governo Federal lançou hoje a reedição do programa que permitirá a ampliação do número de profissionais de saúde nas áreas nas áreas rurais e periferias das grandes cidades. No ano de 2023 serão contratados 15 mil profissionais, ampliando para 28 mil médicos que irão possibilitar um melhor acesso de brasileiros e brasileiras aos serviços de saúde, os quais sofreram com desfinanciamento e ausência de prioridade da atenção primária de saúde pelo Governo anterior.


Quando criado em 2013 o programa recebeu críticas ao garantir partes das vagas por meio de um acordo de cooperação com a OPAS. A fim de desconstruir o discurso da extrema direita, o Governo Federal, afirma prioridade por médicos brasileiros, em um segundo momento por brasileiros formados no exterior e em processo de validação de diplomas. Por último, caso não seja preenchida as vagas que essas serão destinadas a profissionais de medicina estrangeiros. Além da contratação foi anunciada uma série de incentivos a fixação destes profissionais.

 

CRIMES CONTRA MULHERES

A atuação das forças policiais na desestruturação do garimpo criminoso organizado dentro da TI Yanomami vêm desmantelando não apenas os acampamentos, mais também, estruturas criminosas que se utilizam da fragilidade econômica de adolescentes para potencializar a exploração de seus corpos. As ações recentes têm resgatados adolescentes exploradas em prostíbulo por organizações criminosas. Recrutadas na cidade e nas vilas do interior, ou mesmo nas comunidades indígenas com promessa de ganho de dinheiro fácil no garimpo, deparam-se essas mulheres e adolescentes com grupos armados e violentos que impõe a lógica da dívida progressiva, onde segundo uma das adolescentes resgatadas, até o preservativo era cobrado dela. Organizou-se uma máfia na sustentação deste criminoso garimpo que além de impor mortes aos indígenas, fez com que muitas mulheres perdessem suas vidas na prática da exploração sexual nos garimpos.


Bom tarde. Um forte abraço.

 

Fábio Almeida

Jornalista e Historiador.

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