Como se comportará a esquerda e a centro-esquerda ante a cassação do Denarium? Essa é uma pergunta que muitos militantes fazem após a cassação do atual governador. Os questionamentos são importantes devido a ausência de diálogos que aproximem essas tendências ideológicas, diferentes na forma e no conteúdo, porém unitárias em pontos estratégicos na defesa dos direitos sociais e individuais do povo brasileiro.
No entanto, as estratégias eleitorais possuem centralidade nos poucos diálogos que se estabelecem entre os partidos PSOL, PCB, PSTU, PT, PCdoB, PSB, PDT, UP, REDE e PV em nossa querida Roraima. O maior problema consiste nesta quadra, na tática dos partidos na transformação da realidade de exclusão socioeconômica imposta ao povo em geral. Alguns creditam transformações por dentro das estruturas da democracia burguesa, já outros acreditam em um caminho sustentável apenas por meio da transformação do sistema de produção.
Essa divergência teórica e tática afasta partidos que poderiam em conjunto definir uma estratégia de superação do poder político da oligarquia agrária e dos privilégios das corporações públicas e privadas, as quais se apropiam o orçamento roraimense para atender seus interesses. Unificar a luta micropolítica imporia uma reabilitação dialógica em torno de políticas públicas.
É fundamental que estes partidos possam construir um programa mínimo para o Estado, promovendo: o fortalecimento estrutural e estruturante da agricultura familiar; fim da militarização das escolas; fortalecimento da descentralização de serviços e ações de saúde, priorizando o financiamento da atenção primária; política de valorização e inclusão de jovens, indígenas, mulheres, LGBTQIA+, e negros no orçamento público; fortalecimento do acesso ao saneamento; prioridade na geração de emprego e fortalecimento do cooperativismo; defesa do meio ambiente e produção agroecológica; garantia de um programa de moradia com recursos do estado; combate a todos os tipos de violências.
Uma unidade em torno de temas importantes como estes poderiam ampliar a capacidade de inserção política desses partidos no seio do povo, por meio da disputa no âmbito do modelo de Estado, hoje entregue a um conjunto de desregulamentações privatistas e redutoras de investimentos. Reverter esse quadro para um orçamento que possua como prioridade a inclusão econômica, social e ambiental de nossos cidadãos e cidadãs é urgente.
Esse olhar é fundamental se a esquerda e a centro-esquerda observam torna-se referência política, consequentemente eleitoral, no nosso querido Roraima. Não há espaço para partidos que abriram mão da luta da classe trabalhadora, seja pela omissão ou pela conciliação de classe. O reflexo objetivo é o decréscimo de representatividades deste campo político nos parlamentos. Ampliando a capacidade de intervenção dos larápios que utilizam o legislativo para ampliar suas bases eleitorais, por meio de um orçamento que não para de crescer, enquanto o povo passa fome.
Minha posição não é inocente e muito menos acrítica quanto a tática dos partidos. Acredito inclusive que a unidade na luta de temas centrais da vida prática do nosso povo não possui relação direta com as estratégias eleitorais adotadas por cada agremiação partidária. Neste contexto, algumas tendem a priorizar composições com representações das oligarquias locais na disputa majoritária, priorizando as eleições proporcionais, enquanto outros partidos priorizam as disputas proporcionais devido não observarem uma efetividade de luta no parlamento, por não coadunar com a conciliação de classe, apesar de observarem a atuação parlamentar como uma estratégia adequada a sua tática política, a exemplo do PSOL.
Trago centralmente neste diálogo a necessidade de podermos como partidos políticos que possuem pautas idênticas em diversos campos uma unidade para disputa no campo das ideias. Consolidando desta forma uma maior visibilidade política junto à população, quanto aos objetivos centrais de que tipo de organização de políticas públicas defendem essa fração da luta social roraimense.
A capacidade de diálogo é fundamental inclusive para recompor uma retomada do movimento sindical, estrutura da luta de classes que a cada ano passa a ser administrada por princípios ideológicos próximos ao liberalismo e ao conservadorismo, ampliando, portanto, as desigualdades e levando essas estruturas sociológicas a implantarem apenas uma luta econômica, abandonando a disputa cidadã, política e social.
Por fim, temos na possibilidade das eleições extemporâneas, confirmada a cassação do governador dos ricos, uma possibilidade de unificar um documento público com pautas que perpassam a concordância dos partidos mencionados acima. Seria muito bom, ante o amplo apoio a linha ideológica conservadora capitaneada por Bolsonaro e seus apoiadores, em Roraima. A possibilidade de uma frente socialdemocrata que possibilitasse um programa para um governo popular cujo objetivo central seria dialogar com a classe trabalhadora e com o povo em geral, pautando uma nova rota, um novo modelo de Estado.
Precisamos dialogar sem perder nossas perspectivas e identidades, no entanto o isolacionismo dos partidos, possibilitam um processo de inércia na formatação da contraposição política com a direita roraimense que navega nas calmas águas do rio Branco - com a implantação da hidrelétrica teremos um lago no meio do rio, algo sério e debatido pela Frente de Defesa do rio Branco.
Após, a eleição presidencial de 2022 foi constituído um colegiado denominado Fórum Regional Popular de Roraima (FRP), um espaço de diálogo que envolve diversos segmentos da sociedade que buscam contrapor a hegemonia de viés liberal como vozes exclusivas junto ao governo Lula. Essa experiência demonstra a possibilidade, mesmo na diversidade, de organizar pessoas, organizações e partidos em torno de uma transformação da atual realidade de sofrimento vivido pela maioria de nosso povo, especialmente os povos do campo, florestas e das águas e das periferias de nossas cidades.
Espero que as direções partidárias dos partidos mencionados acima, mesmo com os complicados direcionamentos das suas gestões, possam estabelecer uma mesa de conversa, impulsionando um conjunto de propostas e políticas públicas que permitam, a centro-esquerda e a esquerda, retomarem seu protagonismo em Roraima, mesmo ante as divergências táticas. Esse é o único caminho viável para podermos retomar o orçamento público para atender os interesses da população roraimense.
APITSM
A associação dos povos indígenas da terra São Marcos emitiu uma nota de repúdio contra a aprovação do regime de urgência do PL 6579/2019 que inclui o município de Pacaraima, novamente, como uma área de livre comércio (ALC). A organização indígena questiona que não foi observado, pelo senado federal, no debate do projeto as recomendações da convenção 169 da OIT que impõe a necessidade de consulta junto as comunidades indígenas.
A observação possui respaldo técnico tendo em vista que a localidade geográfica onde se encontra a sede municipal é terra indígena. Acreditam os dirigentes da entidade que a urgência deste projeto de Lei possibilitará um impulsionamento do PDL 28/2019 que exclui a área urbana de Pacaraima da TI São Marcos, mesmo com a posição contrária dos indígenas desta medida, principalmente em virtude dos limites a serem estabelecidos, pois impactam algumas comunidades indígenas.
Na realidade a proposta de Mecias de Jesus almeja ampliar não apenas a consolidação da área urbana do município, também busca viabilizar melhores logśiticas de isenções fiscais as várias empresas que operam com o abastecimento de gêneros alimentícios e de limpeza direcionados ao abastecimento da República Bolivariana da Venezuela. As ALC possuem um escopo de renúncias fiscais e subsídios que fortalecem e privilegiam a atuação empresarial Nós consumidores terminamos pagando caro pelos produtos.
CPMI 8 DE JANEIRO
O depoimento do hacker Walter Delgatti, ontem, na CPMI, trouxe muitas informações que se comprovadas colocam o ex-presidente Bolsonaro em outra rota de colisão com a justiça brasileira. Dois pontos são centrais e impactam diretamente em como Bolsonaro utilizou o Estado brasileiro para possibilitar a implementação de seu delírio autocrata de ser necessário a salvação do povo brasileiro.
O primeiro consiste em um possível pedido para que o hacker assumisse a responsabilidade de um possível grampo, realizado por estrangeiros, ao telefone do ministro do STF Alexandre de Moraes. Comprovado esse crime, o ex-presidente pode responder por traição à nação, ao expor um dos representantes dos poderes de Estado a monitoramento estrangeiro.
O segundo ponto consiste na facilitação da relação do hacker com o ministério do exército e seu ciclo de inteligência. A exposição das forças armadas neste caso demonstra a total falta de respeito, do ex-presidente, com os militares brasileiros. Bem como, comprova o comprometimento de parte do exército com as posições delirantes e golpistas de Bolsonaro. É muito grave essa situação, pois demonstra quanto politizada se encontra o núcleo central das forças armadas do país, colocando em risco as liberdades individuais e coletivas expressas na constituição.
No depoimento sobrou até para o medíocre senador e ex-juiz Sérgio Moro que foi chamado de criminoso em rede nacional por meio da TV Senado e das demais empresas que transmitiam a sessão plenária. Os relatos apresentados precisam ser comprovados, alguns terão mais facilidades, outros podem nunca ser confirmados. Porém, para afirmar com tanta certeza os fatos acredito que Delgatti guardou para o momento certo a publicidade de alguns fatos, garantindo uma visibilidade que protege sua vida e de seus familiares.
No mínimo uma coisa não é necessário o hacker comprovar mais, consiste na sua visita ao Bolsonaro, no palácio da Alvorada. O seu encontro com o ex-presidente não possui foto, nem registro que comprove efetivamente sua presença. No entanto, um dos filhos de Bolsonaro confirmou na sessão que seu pai havia recebido o Walter, onde o assunto tratado, segundo Flávio Bolsonaro, não foi fraudar as eleições, mas sim, propor soluções ao TSE. Com essa fala ele credibiliza a versão do hacker de que encontrou o ex-presidente.
PARAFURI
As ações do governo federal no combate ao criminoso garimpo que se estruturou - com apoio político e empresarial de roraimenses - na TI Yanomami impôs uma grave crise de saúde que levou centenas de indígenas de todas as idades à morte. O desfinanciamento, a suspensão de serviços e o fechamento de unidades básicas de saúde indígena (UBSI) concorreu paripasso com a entrada de garimpeiros na TI.
Um destes estabelecimentos de saúde foi reaberto recentemente, possibilitando que cerca de 500 indígenas das comunidades que vivem na região do Parafuri possam receber acompanhamento das equipes multidisciplinares de saúde indígena (EMSI). Além da estrutura da UBSI que foi reformada foi disponibilizado acesso à água potável, tendo em vista o risco do consumo da água do rio, em virtude dos metais pesados lançados no território devido a exploração de minérios.
Falando em consequências do criminoso garimpo ilegal, a polícia federal deflagrou a operação Buruburu, no dia de ontem, cumprindo 11 mandatos de prisão preventiva, além da realização de buscas e aprensões junto as pessoas ligadas a voos irregulares na TI Yanomami, a serviço da exploração mineral. A operação foi conduzida nos estados de Roraima, São Paulo, Goiás, Pará e Rio de Janeiro demonstrando como a organização criminosa organizou uma verdadeira rede de suporte ao cometimento do crime de extração de minério na TI Yanomami. São alvos pilotos, mecânicos e empresários que além de possibilitar o translado ilegal de pessoas e minérios estavam ligados ao tŕafico de drogas e armas.
Bom dia com alegria.
Fábio Almeida
fabioalmeida.rr@gmail.com
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