O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, encontra-se em viagem pela República Bolivariana da Venezuela. Os dois estados sofrem diretamente com bloqueios econômicos protagonizados pelos EUA. As nações sofrem com as medidas unilaterais estadunidense, as quais impactam a comercialização do petróleo, sua principal fonte de arrecadação de recursos públicos.
As medidas proclamadas em 2017 contra a Venezuela e 2018 contra o Irã impôs um grave problema a economia destes países. Um exemplo claro diz respeito a balança comercial com outros países, como o Brasil. Em 2014, o nosso país exportou para nosso vizinho U$ 4,56 bilhões, em 2019 as exportações somaram apenas U$ 420 milhões, sendo Roraima o principal corredor exportador, em virtude da diversidade nas formas de pagamento, inclusive realizadas em ouro, como demonstrou uma operação policial recente.
Já com o Irã a balança comercial registrou a venda de U$ 2,56 bilhões, no ano de 2017, reduzindo em 2019, para apenas U$ 214 milhões, uma redução de 91,75% comparado o mesmo período de 2017. Os embargos econômicos contra países exportadores, especialmente de commodities – o acordo de Bretton Woods (1971) estabeleceu o dólar como padrão ao comércio internacional – impõe problemas na comercialização, pois possuem suas contas bancárias com operações restritas, além de terem dificuldades de acesso ao dólar. As consequências humanas são trágicas.
Portanto, os países possuem singularidades na geopolítica mundial de não enquadramento com os interesses econômicos dos EUA e sofrem diretamente retaliação econômica – uma ferramenta de guerra muito utilizada ao longo da história. No último sábado, o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, em discurso falou do papel exercido pelo seu país no processo de desestabilização política da Venezuela, por meio dos embargos econômicos, afirmou que "quase chegaram a ter o controle integral das reservas de petróleo dos bolivarianos".
A declaração de Trump deixa claro a atuação dos EUA, em 2019, passou a contar diretamente com apoio do Brasil e da Colombia no processo de tensionamento e desestabilização. As consequências foi um empobrecimento da população e o processo de imigração, com Roraima sofrendo diretamente o impacto do caminhar em busca de comida, trabalho, por parcelas do povo venezoelano. O governo dos EUA deve ser responsabilizado por esses atos praticados. É fundamental que o conselho de segurança da ONU posicione-se quanto a esse crime de genocídio.
Em evento realizado ontem, o mandatário iraniano proferiu uma intervenção denunciando a atuação unilateral de países que impõe embargos econômicos às nações, intervindo em seus processos de auto-organização e nas políticas públicas de bem-estar ao povo. Conclamou os demais países a regularem essa questão, impedindo que medidas traumáticas como essa não possam ser adotadas, em nome direito a vida. Em sua justificativa afirma que não é admissível que diferenças na geopolítica internacional promovam a fome e o sofrimento de pessoas.
Durante sua intervenção chamou as nações a construírem uma reformulação das organizações internacionais, especialmente a ONU. Para o Presidente do Irã a organização deve deixar de ser uma entidade que representa governos, para promover os interesses dos povos. Essa é uma nova leitura sobre o papel do organismo internacional – criado após o fim da segunda guerra – revolucionária, ao estabelecer o fim do poder dos estados nações e seus interesses sobre as ações conduzidas pela ONU.
O fim das guerras como forma de coação e imposição de interesses geopolíticos foi outra conclamação realizada no evento. Para Raisi, não é possível um conselho de segurança com 5 membros, muito menos que países promovam guerras e intervenções contra a autodeterminação das nações. Restando a ONU, ou seu conselho de segurança, o silêncio sobre atos nefastos que impõe morte a milhões de pessoas, como ocorre no Iemen e na guerra da Otan contra a Rússia que tem como palco o território ucraniano.
A conjuntura internacional caminha delicadamente numa linha tênue que se estrutura em uma rede de conflitos bélicos e econômicos que potencializam a produção de armas, enquanto pessoas morrem de fome e a concentração de renda aumenta no mundo. Portanto, o chamado de paz idealizado pelo Irã, soma-se a chamados capitaneados por outras nações como Brasil, China, África do Sul, México, Argentina e Colombia. Organiza-se um novo marco geopolítico de grande importância e transformador das relações entre os países.
Surge um grande movimento que se assemelha ao dos países não alinhados, organizado após o início da guerra fria – envolvendo URSS e EUA. Vários são os países que clamam pela paz, autodeterminação e combate a pobreza. Esse novo quadro geopolítico poderá deixar os EUA isolados, em virtude de sua sanha imperialista de determinar os rumos que as nações devem seguir. Além de necessitar de prioridade em insumos para manter sua lógica produtiva e de centralização financeira e comercial, esse eixo começa a mudar e isso ameça os interesses estadunidenses, restando a força bélica como motor político e econômico.
Um dos principais condicionadores deste processo inquiridor exercido pelo governo estadunidense era o comércio exterior por meio do dólar. As novas ferramentas de comunicação e a transparência na macro e micro política econômica das nações possibilitam uma verdadeira revolução geopolítica que é o comércio com base nas moedas nacionais. Isso, aliás, foi uma das intervenções realizadas pelo presidente iraniano que já comercializa petróleo com a China, Rússia e Venezuela nas moedas nacionais.
Esse é um passo de reorganização da economia que imputará muitas transformações geopolíticas, pois articulações regionais potencializarão ampliação na produção dos setores da economia, gerando emprego, distribuindo renda, bem como o fortalecendo blocos regionais e parcerias bilaterais que permitirão uma readequação das estruturas de governança mundial, caminhando para um mundo plural, onde as nações possuem importância a partir de suas condições objetivas de produção mundial.
Vivemos um novo processo de reorganização da geopolítica mundial, superando a bipolaridade militar e econômica, para trazer a supremacia do multilateralismo como ferramenta de relações diplomáticas e ações conjuntas para superação dos principais impasses que vivemos, especialmente a crise climática que nos imporá, a cada ano, piores condições de vida, especialmente aos mais pobres e aos excluídos do sistema de produção capitalista.
Essa nova realidade imporá necessariamente o uso de energia renovável, a garantia da proteção ambiental, o estabelecimento de rendas mínimas e consequentemente a planificação da produção industrial e agrária. A geração de trabalho e a produção de alimentos são fundamentais, porém, a lógica produtivista da acumulação desenfreada, imposta pelo capitalismo, em breve começará a ser superada. Tendo como referência o processo de reorganização das relações entre os povos e nossos estados nacionais.
O Brasil, com a gestão de Lula, assume um papel importante neste contexto geopolítico ao promover caminhos de relações diplomáticas que potencializam as vozes de nações surrupiadas do seu direito de opinar e interferir no jogo de xadrez, colocando, ao lado de outras nações, novas peças sobre o tabuleiro que supere a lógica imperial do Rei, bem como as torres e os cavalos guerreiros que fomentam mortes pelo mundo.
EVASÃO ESCOLAR
Roraima enfrenta um grave problema de evasão escolar, especialmente no ensino médio. Os altos índices de empobrecimento de nossa população - apesar da arrecadação pública e das receitas privadas terem aumentado - promovem, cada vez mais, a necessidade de jovens entrarem no mercado de trabalho mais cedo, abandonando os estudos. Para enfrentar essa realidade, o ex-parlamentar Evangelista Siqueira (PT), aprovou um projeto de Lei que promovia várias ações públicas para reverter o quadro de abandono da escola, durante a lesgislatura passada. Apesar de eleitoreiro a proposta renponde a necessidades urgentes no setor da educação.
O Governador dos ricos vetou integralmente o projeto. Ontem, a ca$a legi$lativa manteve o veto, impondo ao Estado a inércia ante a evasão escolar e aos jovens a cegueira de uma classe política que preconiza seus interesses pessoais, ante a superação da desigualdade de renda e riqueza, ampliada, cada vez mais, em virtude da redução dos anos de escolaridade de nosso povo. Na mesma sessão os Deputados aprovaram aumento de benefícios para policiais penais. Em um Estado que não valoriza a educação e corta investimentos no setor, sobra recursos para remunerar policiais, pois sem educação o crime campeia.
MEMÓRIA VALORIZADA
O Instituto Brasileiros de Museus (IBRAM) lançou o prêmio Pontos de Memória. O objetivo é valorizar e permitir o registro de histórias e memórias da diversidade de nosso povo. A iniciativa começa a ser registrada corretamente. Uma cultura viva exige na prática a disseminação do patrimônio material e imaterial que a formata. No total serão distribuídos 40 prêmios de R$ 40 mil, totalizando um investimento de R$ 1,6 milhões. As entidades e coletivos interessados em participar devem solicitar até o dia 20/06/2023 seu registro no cadastro nacional de pontos de memória, no endereço eletrônico do IBRAM. As inscrições para participar da seleção ocorrerá de 20/06 a 07/08. Esse é um momento importante para que as nossas entidades, de Roraima, possam colocar suas rodas de conversa, suas danças e a valorização de nossas memórias para registro do nosso país. Participe, acessndo o link para saber como cadastrar sua organização.
ABUTRES
A operação espelho apura o desvio de recursos públicos durante o auge da pandemia no Mato Grosso – falar nisso como se encontra as investigações pela banda de cá de Roraima? No entanto os investigadores surpreenderam-se ao encontrar nos celulares de médicos e donos de hospitais privados que prestavam serviços ao poder público reclamações contra as medidas de lockdown, decretado pelos prefeitos municipais, pois dificultavam a internação de pacientes nas UTI e consequentemente seus ganhos financeiros.
É triste vermos profissionais da saúde assumirem que o risco de morte de pessoas é fundamental a garantia de seus lucros. Que país é esse? Nossa sociedade está doente, sofremos com a exacerbação do lucro, com o declínio da ética e individualização da vida. Em algumas das mensagens, integrantes da reportagem do Intercept Brasil, médicos chegam a afirmar que colocaram pessoas na UTI sem necessidade, exclusivamente para garantir sua remuneração.
A máfia organizada possui forte suspeita de participação do setor público. O Governador, do segundo estado mais bolsonarista do Brasil (eleições de 2022), foi um dos que afirmavam ser um erro o fechamento das atividades econômicas, sendo sua prioridade abrir leitos de UTI para atender as demandas de complicações vividas pelas famílias mato-grossense. As recentes mensagens demonstram a existência de um cartel para abertura de leitos de UTI, os quais resultaram aos donos e sócios das empresas a aquisição de bens muito valiosos nos anos de 2020 e 2021. No total, segundo as investigações, os envolvidos e as empresas aumentaram seu patrimônio em R$ 33 milhões. A morte de brasileiros rendeu muita grana para salafrários neste país.
NEGÓCIO DAS ARÁBIAS
O financiamento de campanhas eleitorais teve restringido a disponibilidade de recursos das pessoas jurídicas, no entanto as pessoas físicas, donas das empresas, continuam a financiar campanhas eleitorais, protegendo seus interesses dentro do parlamento. O Deputado Federal Zé Victor (PL/GO) recebeu do agronegócio a bagatela de R$ 925 mil em doações de pessoas físicas, os maiores doadores são Roberto Carlos Lyra, da empresa Delta Sucroenergia e João Emílio Rocheto da Bem Brasil. O Zé, que de Zé não possui nada, foi agraciado pelo Lira com a presidência da comissão da saúde na câmara federal.
Você deve se perguntar. Como o deputado ajudará seus financiadores? Não pautando ou designando relatores que possam atender aos interesses das empresas. Vários são os processos que propõe regulações que atingem as cadeias produtivas do agro – que de POP não têm nada – a exemplo da regulação dos alimentos ultraprocessados que se encontra paralisado na comissão de saúde. O dossiê demonstra como atuam as principais empresas do agro e da produção de alimentos ultraprocessados no âmbito do congresso nacional. Preocupante é que partidos políticos retomam o debate das pessoas jurídicas voltarem a financiar partidos. Quem perde com isso somos nós trabalhadores.
CRISE YANOMAMI
A comissão do senado apresentou, ontem, o relatório das atividades realizadas. Na próxima sexta-feira falarei melhor do documento elaborado pelo Senador Hiran Goçalves (PP/RR). No entanto aproveitarei aqui para destacar alguns pontos incompreensíveis. Um deles é o senador tentar caracterizar densidade demográfica numa terra indígena demarcada para possibilitar subsistência, aos indígenas, com caça, coleta e pesca. O parlamentar que encontra-se em seu terceiro mandato federal aponta que o Estado brasileiro não promove a proteção e as condições adequadas de vida aos indígenas da TI Yanomami. Ele fez o que enquanto figura do Estado? Bom quase esqueci. Participou de algumas manifestações de garimpeiros em Roraima.
Na caracterização dos povos Yanomami aponta que em abril os indígenas cometeram uma chacina de 9 garimpeiros. Quais os fundamentos para essa alegação feita pelo senador? A fonte dessa informação não é apresentada, existindo apenas vídeos de garimpeiros alegando estes fatos, os quais são relacionados aos indígenas. Os atos de violência denunciados pelos Yanomami passam muito ligeiramente pelo relatório, sendo no fundo apontados como provocações dos indígenas. É indecente a pobre condução narrativa do relatório.
Os assessores do senador Chorão cometem erros históricos imensos, o mais gritante é colocar que portugueses realizaram expedições na região do atual Estado de Roraima duas décadas após sua invasão no continente sul-americano, especificamente a colônia do Brasil, pois este território era espanhol. O primeiro registro de uma expedição latina nesta região remonta a viagem de Pedro Teixeira que registra a existência do rio Branco, isso ocorre entre 1637 e 1639. Os erros históricos pululam a estupidez e a burrice como afirmar que a BR 174 foi aberta na década de 1960.
O relatório trás uma fala criminosa do senador Mecias de Jesus. Em uma passagem o senadozinho afirma que os yanomami precisam dos garimpeiros para poderem comer. Essa afirmação surgiu de onde? Qual o fundamento concreto de um relatório de uma comissão afirmar isso por achismos de parlamentares? Ou será que os vídeos de garimpeiros dizendo que alimentam os indígenas transformou-se em prova para comissão? As organizações Yanomami deveriam processar esse Senador.
Nada mais adequado para conter em um relatório que trata de problemas humanitários relacionados aos povos indígenas do que enaltecer que Roraima é a última fronteira agrícola do país. Ou seja, a ampliação de terras para plantio de commodities e criação de gado é prioridade, ante analisar os impactos de terras griladas e cadastros rurais sobrepostos a terra indígena yanamomi. Enfim, o relatório foi feito para proteger a extração mineral e apresentar os Yanomami como incentivadores do garimpo e assassinos de garimpeiros.
Bom dia. Um forte abraço.
Fábio Almeida
Jornalista e Historiador
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