A crise humanitária vivida pelos povos da TI Yanomami (TIY) possui um caráter multifacetário. Não podemos desconsiderar a invasão do território por empresários e políticos financiadores da extração ilegal de minérios. No entanto, outros fatores devem ser observados e não podem ser desconsiderados como graves ameaças a vida e ao legado civilizatório destes indígenas.
O garimpo impõe um grave problema a vida das pessoas nas regiões das calhas dos rios Uraricoera, Mucajaí, Couto de Magalhães e Apiaú. O rio Catrimani também sofre com essa pressão, porém os estragos ambientais se encontram abaixo das terras indígenas, funcionando no entorno das áreas de preservação ambiental, não deixando por isso de ser uma preocupação, nessa região recentemente foi denunciada a construção de uma estrada com cerca de 150km que permite a circulação de máquinas e equipamentos até a calha do rio.
Porém, não pode as ações destinadas a retomar o controle do espaço territorial da TIY focarem apenas o garimpo criminoso e sanguinário organizado na região de Roraima. É necessário aos grupos de trabalho ampliarem seus olhares a grilagem de terras nas bordas do território, abrangendo regiões localizadas nos municípios de Amajarí, Alto Alegre, Mucajaí, Iracema e Caracaraí.
Uma das regiões mais impactadas é o Ajarani e Apiaú por meio da ampliação de áreas de fazendas e colonização dentro dos limites da TIY, criando problemas de locomoção, tendo como principal ferramenta de diálogo a distribuição de bebidas alcoólicas aos indígenas. A proximidade, das fazendas, consolida um processo de desterritorialização que impacta diretamente a qualidade de vida dos povos.
A pressão sobre o território Yanomami, principalmente na região do Ajarani, estrutura-se por ação ou omissão do governo brasileiro. A aberturas de estradas, o avanço de cercas, o estabelecimento de prioridades rurais, em terras da União, não respeita os limites da TIY, sendo uma realidade protagonizada desde a década de 1970, ampliada na gestão anti-indígena do último governo da União, ações apoiadas pelo Governo local.
A realidade de desterritorialização cria dramas humanitários, pois a perda de referência, protagonizada pelo acesso a bebidas e a errônea política de acesso a benefícios sociais impõe uma circulação permanente de indígenas pelas cidades de Caracaraí, Iracema Mucajaí e Boa Vista. Com mortes, prostituição e até suspeitas de negociações que envolvem crianças e adoções ilegais.
O grave quadro sanitário e humano na região do Ajarani, especialmente a confluência com a localidade da Vila de Campos Novos – um dos pontos de suporte ao garimpo dentro da TIY – impõe também um processo de invasão do território Yanomami, protagonizado por alguns fazendeiros, os quais muitas vezes impedem a passagem dos indígenas, ou usam suas fazendas como ponto de sedução, com a distribuição de roupa, comida e bebida, por prestação de serviços análogos a escravidão.
No ano de 2010, a Funai, realizou um levantamento de todas as propriedades irregulares existentes na região, as consideradas ocupações de “boa fé” deveriam perceber indenizações, enquanto as demais deveriam passar apenas pela desintrusão, esse processo impôs a retirada de 12 fazendeiros, no ano de 2014. Porém, nos últimos 5 anos a invasão do território por grileiros tornou-se uma nova realidade ante da omissão da gestão pública, especialmente a gestão da Funai.
É fundamental, a terra indígena Yanomami, ser observada em toda sua complexa existência dentro de um Estado, onde políticos, empresários e parcelas significativas do povo assumem abertamente uma posição anti-indígena. Combater o criminoso garimpo é prioritário, mas é impossível que uma ação pensada pelo Estado, não faça o enfrentamento aos grileiros de terras que pressionam a TIY em toda sua extensão, especialmente na região do Ajarani.
A SAÚDE UMA REALIDADE DE SOFRIMENTO
Em Roraima, desde que Neudo Campos privatizou a saúde, lá nos idos anos 1997 criando a CoperPai, o sistema foi capturado por interesses econômicos de verdadeiras quadrilhas que se apoderam dos recursos públicos. Ao longo de nossa história vivenciamos com várias denúncias de desvios de recursos, enquanto as famílias precisam comprar remédios e materiais para cuidado de seus entes.
Na história recente chegamos ao escárnio do detentor de um dos maiores contratos da SESAU ser nomeado Secretário Adjunto, geriu com proeza os recursos que remuneraram seu hospital privado. A pandemia também demonstrou as diversas fragilidades da gestão do SUS estadual, inúmeras denúncias de superfaturamento foram apontadas no relatório final da CPI da Saúde, porém não sabemos se os acusados foram responsabilizados pelo crime que contribuiu com a morte de nossos parentes.
O aliado de Mecias de Jesus, pai do novo ministro do TCU, Sampaio, Presidente da dita “casa dos privilégios” precisa esclarecer a sociedade os encaminhamentos adotados pela ALE/RR para inibir os desmandos existentes na saúde do Estado, encaminhamento tão veementemente defendido pelo seu colega de farda, hoje líder do Governo. A realidade que enfrentamos é a inércia judicial, ou mesmo dos órgãos de fiscalização em punir os corruptos que matam roraimenses a partir do desvio de recursos da saúde.
Políticos, empresários e alguns servidores – na sua maioria cargos comissionados indicados por parlamentares e empresários – passaram ilesos, o pior são os Deputados omitirem-se ante comprovações cabais de desvios de recursos, apesar de muitos nomes terem sido protegidos no relatório final, outros, no entanto aparecem, especialmente senadores do nosso Estado.
NÃO FARÁS DIÁLISE!
A SESAU possui convênio com uma clínica de diálise para tratamento dos roraimenses que possuem problemas renais e precisam de ajuda artificial para cumprir as funções orgânicas desse órgão essencial a vida. O procedimento é muito invasivo e debilitante, promovendo transtornos ao paciente e aos seus cuidadores. Ocorre que nesta semana os fornecedores de serviços reduziram a quantidade de hemodiálise ofertada aos usuários em virtude de o Estado não efetuar o pagamento do contrato.
Esse caminho de suspensão dos serviços deve também ser adotada brevemente pelos laboratórios privados de análise clínicas, os quais também buscam receber por seus serviços. A ausência de compromisso do Governo com a saúde impõe convivermos com a morte de pessoas próximas.
Falta de dinheiro não é! Na coluna de 08/02/2023 deixei claro que o Estado de Roraima terminou o ano fiscal, de 2021, com R$ 1,5 bilhões em caixa, tendo em 2022, outra arrecadação superior a estimada e uma execução orçamentária inferior a autorizada. O que falta é gestão e cuidado com a qualidade de vida do povo.
CADÊ A MATERNIDADE DENARIUM
Iniciada em junho de 2021 a reforma da maternidade de Roraima continua em um limbo estrutural. Quem passa pelo local ver pouca movimentação, quase nenhuma ampliação. Enquanto isso, nossas mulheres expostas a condições difíceis em um dos momentos mais belos da vida, trazer a vida um novo ser humano. A previsão era que a reforma deveria custar cerca de R$ 20 milhões de reais, segundo o Secretário de Saúde da época, Airton Cascavel. Para manter a estrutura provisória localizada no 13 de setembro, o governo já vai gastando mais do que a estimativa de gastos com a reforma. O contrato que foi renovado, em 2022, comprometeu R$ 12,9 milhões de recursos da saúde. Daqui a 5 meses, não concluída a reforma, o contrato deverá ser renovado novamente, lógico que com a devida correção, pois empresário algum aguenta manter serviços nas condições impostas pela turma da saúde. Quem perde com tamanho descompromisso são nossas mulheres.
REAJUSTE JÁ!
A recomposição da inflação é um dos direitos estabelecidos a classe trabalhadora. Recentemente vimos que os Deputados estaduais ampliaram seus salários, atendendo inclusive aumento ao Governador e seus Secretários. O Governador teve seu salário reajustado em 11%, já os secretários contaram com um aditivo maior na remuneração tiveram um aumento de 26%. Aos demais servidores é previsto a recomposição da inflação. Porém, hoje servidores públicos estaduais realizaram uma manifestação cobrando o referido reajuste, pelos Deputados, tendo em vista que apesar da LDO apresentar esse indicativo, não foram previstos recursos na LOA.
COMEÇA A CAIR A CASA
A irmã do Governador Denarium recebeu a visita da polícia federal na manhã de hoje. O motivo é o envolvimento dela com um esquema de lavagem de dinheiro proveniente do ouro, manchado de sangue dos povos da TI Yanomami. Essa relação da família de Denarium com o garimpo ilegal evidenciam que rumores espalhados pelos garimpeiros não são irreais como se acreditava. O envolvimento de políticos e empresários no financiamento do garimpo é uma realidade existente no Estado de Roraima, por isso, vemos a defesa intransigente da continuidade do crime. A insígnia dos garimpeiros e seus aliados é que o Governo deveria permitir a continuidade da exploração criminosa por mais 2 meses. A indecência não é maior do que a guarda de cassiterita em casa, como demonstrado hoje, após a visitada PV em um dos endereços visitados. A questão a ser respondida é se a família Denarium além de suspeita na lavagem de dinheiro do garimpo também explorava ouro diretamente na TIY. Essa ação da PF irá transformar a relação de ampla maioria do Governador “agiota”, conforme afirmava Suely Campos, na casa dos privilégios, vulgarmente conhecida como Assembleia Legislativa de Roraima.
Bom dia. Um forte abraço
Fábio Almeida
Jornalista e Historiador.
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