O crescimento da violência vincula-se a crise estrutural do capitalismo. Essa assertiva será negada por muitos, no entanto consiste em um dos caminhos tomados pela indústria capitalista e seus estados nacionais. O objetivo central dessa relação é manter os níveis de produção, após a crise do sistema financeiro internacional iniciada em 2008, os países centrais do ocidente e oriente estabeleceram a produção de armas como catalisador da geração de empregos. Aqui no Brasil priorizamos a produção de eletrodomésticos da linha branca, pois geladeira ou máquina de lavar não eram realidade de muitas famílias no país. Empregos mantidos. É necessário o uso da produção.
A saída lógica é a tensionar conflitos regionais, como forma orgânica de dinamismo de uma indústria cara, a qual extrapola o setor público, caminhando, cada vez mais, rumo as corporações privadas que comercializam de armas a soldados no fomento aos confrontos de cunho econômico, étnico, religioso ou político que se espalham por todos os continentes, alguns envolvendo nações diferentes, outros estruturados em disputas internas.
As 100 maiores empresas fornecedoras de serviços e armas encontram-se em sua grande maioria no ocidente. 44% são estadunidenses, 10% britânicas, logo após temos a Rússia e a França com 6% cada. Israel possui 3% deste mercado produtor. O Brasil figura com apenas uma empresa entre as 100 maiores neste setor. Entre as 10 maiores empresas do setor, 8 localizam-se nos USA, uma na Holanda e outra em Israel. Portanto, é fundamental compreender o viés arengueiro destes países, a guerra é um fundamento de lucro, emprego e imposto. As cabeças metralhadas no continente africano garantem a janta de trabalhadores estadunidenses.
Qual o principal produto acabado? O direito de matar, cada vez mais, com tecnologia de ponta. Em 2022, os gastos militares somaram US$2,24 trilhões. A China, EUA e Rússia somam 56% deste investimento, no entanto o valor de US$873,6 bilhões foram aplicações estadunidenses. O crescimento dos investimentos em relação a 2021 foi de 3,7%. Para o centro do capitalismo mundial a corrida armamentista é uma saída econômica e a chance de retomar o processo de influência em outras nações, tendo como principal ferramenta sedutora a disponibilidade de armas, para superar aquela velha angústia ante as tensões existentes na fronteira ou nos territórios, como ocorre na Maré.
O capitalismo estrutura sua base organizativa não apenas na produção de produtos acabados, com alta tecnologia. Precisa vender seus produtos, o encalhe representa a quebra do setor - o qual ao crescer demonstra a demanda por balas e sangue. Assim, o fomento aos conflitos são essenciais, caso contrário quem precisará de armas. Assim, o crime organizado, os grupos separatistas e as nações em conflitos políticos e territoriais passam a ser clientes dessa indústria. Como uma arma de uso restrito como a .50 é encontrada nas comunidades do Rio de Janeiro, se poucas empresas a produzem? Porque o comércio é fundamental ao crescimento da produção de armas e munição, garantindo empregos, impostos e lucros, enquanto famílias choram as mortes de seus parentes, seja em Jequié, Iêmen ou Gaza.
A ONU - conselho silenciado pelo poder de veto e ação isolada pelos integrantes permanentes do conselho de segurança - apontou em fevereiro de 2023 que o mundo convive com 30 conflitos armados, o continente africano concentra a maioria das ações belicosas. A principal delas é a guerra Ucrânia e Rússia, fundada a partir do desejo da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) - organização guerreira criada para manter a paz - de expandir seus equipamentos bélicos para fronteira russa, usando o território ucraniano. Essa realidade descontextualizada de uma necessidade objetiva da União Europeia, promoveu aos EUA, dois ganhos diretos, a garantia de recursos europeus às empresas do império, em dois setores estratégicos, armas e energia.
Enfim, não podemos observar a lógica guerreira e não vincular aos interesses econômicos e geopolíticos das nações, especialmente aquelas que controlam os modelos produtivos pela divisão internacional do trabalho. Outra nação que observou esse filão econômico e começou a investir e crescer seu papel é a China. A relação belicosa sempre foi uma das principais formas do estabelecimento de inclinações diplomáticas. A existência da disponibilidade de armas promove aproximações entre as nações, neste cabedal o ganho econômico não é o único olhar chinês, pois cada vez mais tenta emergir como um novo mediador internacional, contrapondo inclusive a premissa imperialista opressora de vontades nacionais imposta pela América do Norte e Europa.
Não haverá uma cultura de paz, como conclamou o governo Lula em seu discurso na assembleia geral da ONU, deste ano, com as nações, inclusive o Brasil, apostando na indústria bélica como uma ferramenta ao dinamismo produtivo interno. Essa equação não conseguirá encontrar uma convergência, pois a lógica da produção de armas relaciona-se diretamente na manutenção de zonas de conflito. Portanto, a solução de paz deve ser estabelecida pela suspensão dos conflitos, desarmamento da população e redução dos investimentos na indústria bélica, sendo os recursos direcionados à garantia do direito de alimentar-se e morar das pessoas, especialmente aos diretamente atingidos pelos conflitos vigentes hoje.
Nesta quadra que eclodiu, no último sábado, mais um conflito armado entre palestinos e israelenses insere-se neste viés. Importante lembrar que a Cisjordânia, desde o início do ano sofre com incursões do exército sionista, impondo ampliação dos Kibutz - áreas onde se estabelece colônias com judeus advindos da diáspora. Nestas operações, prisões ilegais, homicídios e apropriações ilegais de territórios marcaram meses de conflitos, os quais fortalecem a consolidação de resistências, inclusive as armadas como a desencadeada pelo Hamas e outras organizações.
O fundamento central da disputa entre palestinos e israelense é a criação do Estado dos primeiros, proposta não aceita pelos líderes fundamentalista do judaísmo que concebem que a região seja totalmente direcionada ao seu povo. No intuito de manter essa premissa, a extrema direita e à direita judaica, promovem com os árabes/palestinos algo muito parecido com o que os alemães fizeram com os judeus. Não existe apenas as câmaras de gás, mas toda a rede de violências contra um povo, especialmente em Gaza, local que deu origem aos recentes conflitos.
Enfim, a idealização e manutenção destes conflitos são fundamentais ao seguimento industrial militar, por meio dele, os principais estados nações conseguem manter certo dinamismo de suas economias, com massivo investimento de recursos públicos que fomentam toda uma cadeia de violências que se estruturam de uma favela brasileira a disputa territorial do Congo, enfim o mundo segue proliferando ódio, para colher lucro. Nisto acerta o governo Lula ao tentar pautar um discurso de paz mundial em defesa da vida.
Crime Organizado
Os tentáculos do crime organizado em regiões de fronteira como Roraima tendem a entrar dentro dos espaços públicos. Essa transformação de uma criminalidade de baixo potencial, para a chegada de organizações estruturadas e hierarquizadas iniciou por volta de 2012. Hoje, caminhamos para um narcoestado caso as forças de segurança nacionais e locais não imponham uma mudança concreta na gestão da segurança pública, investindo especificamente em inteligência e combate ao financiamento do crime.
Anos atrás vimos a acusação de um vereador da capital que era ligado a determinada organização criminosa. Suspeita-se que um deputado cassado também possui relações com o crime de tráfico de armas. Denúncias circundam policiais, juízes, servidores públicos, enfim, existem investigações em várias linhas quanto às relações promíscuas de representantes do Estado com o crime. Muitas vezes não são relações potencializadas no cometimento do tráfico de drogas, armas e pessoas - crimes que crescem em Roraima - mas, na manutenção de empresas para lavar o dinheiro sujo de sangue, especialmente de nossa juventude.
Na última sexta-feira, vimos o secretário adjunto de relações internacionais e ex-vereador, do município do Bonfim, ser preso por formação de quadrilha com a posse de 320 quilos de super maconha e mais de 600 munições, segundo a delegada as balas seriam encaminhada ao garimpo. Quase todas as semanas nossas forças de segurança apreendem munições, armas e drogas, no entanto o combate a essa criminalidade não pode ser feita apenas no varejo, precisamos golpear o atacado, ou seja, as empresas que lavam o dinheiro originado no crime.
O cidadão preso no bairro Murilo Teixeira, chegou a disputar a prefeitura do Bonfim, no ano de 2020, pelo partido verde. Sua ascensão ao poder político consiste em uma atuação das organizações criminosas em assumir posições estratégicas no estado? Ou devemos ver isso apenas como uma coincidência, como aquela que vitimou 3 médicos no Rio de Janeiro, na última quinta-feira? Na minha opinião é necessário a criação de uma cooperação entre a União e o Estado para que possamos conter essas organizações criminosas, as quais a cada dia, em Roraima, adotam posturas de enfrentamento ao Estado, seja com fuzilamentos em vias públicas ou estabelecimento de seus representantes em locais de mando neste Estado.
Água e Bala
Santa Catarina sofre com as chuvas torrenciais que caem desde a semana passada sem trégua alguma. Os riscos de alagamento foram responsáveis pela suspensão da tradicional Oktoberfest, realizada na cidade de Blumenau. Na noite de sábado, a região norte da unidade federativa já computava com 2 óbitos e 46 municípios em estado de emergência. A situação das chuvas no sul do país e a seca no norte e nordeste impoẽ medidas emergenciais, principalmente em virtude das infraestruturas existentes, as quais podem causar prejuízos maiores ao povo.
No entanto, ninguém esperava que as pessoas fossem feridas a bala. Os ataques da corporação policial catarinense ocorreram contra os indígenas do povo Xokleng. O governo do estado queria fechar as comportas da barragem norte no rio Itajaí, como os indígenas resistiram, pois o fechamento das duas comportas significará o alagamento de suas comunidades, a gestão estadual recorreu à justiça, a qual determinou na manhã do domingo o fechamento das comportas para proteger as pessoas do vale do Itajaí. Quanto aos indígenas que terão suas roças, casas e bens destruídos, a justiça determinou que o Estado e a União devem garantir barcos para sua proteção e locomoção para abrigos.
Essa decisão demonstra o descompromisso com os indígenas que campeia pela justiça sulista. Como expor um povo a condições de alagamento, em uma localidade de difícil acesso, para proteger pessoas que se encontram em cidades? Essa consiste em uma decisão xenofóbica que se amplia quando o poder armado do estado utiliza violência para impor a destruição de uns, sobre a salvação de outros. Quais as localidades com maiores chances de cuidados e recuperação dos prejuízos, o território indígena ou as sedes municipais? Repugnante a decisão da gestão pública brasileira.
Boulos
O deputado federal do PSOL/SP sonha em governar a maior e mais rica cidade da América Latina, São Paulo. Para isso, realiza aproximações com parcela da direita paulista que se encontra ressabiada com os caminhos da extrema direita, a qual ganha apoio popular entre os paulistas. As eleições de 2022, no estado, deram vitória ao projeto autocrático de Bolsonaro, apesar da capital ter dado vitŕoria ao Lula. Essa aproximação adesista, de Boulos, olha exclusivamente para uma possível vitória no próximo 06/10/2024.
Mas, a direita começa a causar baixas na campanha de Boulos que a cada dia será mais pressionado a rever posições políticas, caminhando ao centro, levando consigo o seu partido. Um dos integrantes da elaboração do programa de saúde da pré-campanha, Jean Gorinchteyn, ex-secretário de saúde da gestão de João Doria, foi o primeiro a abandonar o barco - olhe como as referências liberais interagem com a campanha de Boulos em São Paulo.
Segundo o médico, seu afastamento motivou-se por Boulos não condenar o grupo Hamas como terrorista e ter uma posição pró-palestina. Ou seja, um dos coordenadores do programa de saúde da campanha de Boulos é contra a criação do Estado Palestino, apesar do PSOL defender a sua criação, sob os marcos territoriais de 1967. Quantos mais deste naipe debatem o programa de governo do PSOL para cidade de São Paulo?
No último dia 06/10/2023, a presidenta eleita do PSOL, Paula Coradi, afirmou em entrevista à folha de São Paulo que o partido não defende pautas identitárias - posições políticas ligadas aos movimentos negros, mulheres, LGBTQIA+ e indígenas - mas desenvolve uma luta para classe trabalhadora que tem cor, gênero e sexualidade. Essa é uma mudança significativa na condução política do partido. A candidatura de Boulos poderá apresentar outras contradições importantes, até mesmo reconsiderar a luta socialista.
Guatemala
A extrema direita guatemalteca tenta por meio dos mesmos fundamentos golpistas aplicados em outras nações inibir que o presidente eleito Bernardo Arévalo (Movimento Semilla), um social democrata, tome posse, em 14 de janeiro de 2024, conforme determina o calendário eleitoral. Nas eleições o futuro presidente derrotou uma frente de direita capitaneada por Sandra Torres. Após a tentativa do Ministério Público de retirar a candidatura do Semilla à presidência sob acusações de fraude no registro da agremiação junto a justiça eleitoral - a coalizão é acusada de fraudar assinaturas para o registro eleitoral - essa semana o poder fiscalizador voltou a manifesta-se contra a assunção do mandatário, para isso apreendeu as atas da realização dos 2 turnos eleitorais. A resposta dos apoiadores de Arévalo foi ampliar as manifestações nas ruas, muitas se encontram bloqueadas. Arévalo aproveitou para falar sobre a tentativa de golpe de estado, ele conta com o apoio da OEA e da corte constitucional da Guatemala que determinou a posse.
Seca
A crise hídrica que atinge os mananciais no Amazonas, Pará, Acre e Rondônia compromete um conjunto de necessidades básicas da população. A insegurança alimentar devido a ausência do pescado e a falta de água potável consistem nas principais dificuldades a serem superadas emergencialmente. No entanto, como garantir esse abastecimento com a seca de rios e igarapeś. As sedes municipais ainda possuem pistas de pouso, porém as comunidades ribeirinhas, indígenas e vilas tem no meio aquático sua única estrada possível.
Por isso, é fundamental que o governo federal decrete estado de emergência, passando a contribuir com o abastecimento das regiões isoladas por meio de voos de helicópteros. Importante também neste atual quadro que seja garantido recursos extras do SUS para o traslado aéreo de pacientes, bem como na garantia de medicamentos contínuos que devido a estiagem começaram a faltar nas farmácias populares. É urgente a ação governamental na amazônia.
Aqui nas terras de Makunai’mî é importante que o poder público comece a organizar os processos de cuidado de nosso povo, pois sofreremos tanto quanto os amazônidas, rondonienses e acrianos. O comitê intersetorial para enfrentamento à situação de emergência ambiental do Amazonas informou, no último sábado, que 273 mil pessoas foram afetadas pela seca, representando 7% da população do Amazonas. Dos 62 municípios, apenas 2 apresentam normalidade, 18 encontram-se em alerta e 42 declararam estado de emergência devido à seca. É necessário que o internacionalismo da classe trabalhadora possa enfrentar o atual quadro climático, lutando contra a onda poluidora da produção capitalista, em nome da vida de nossas famílias e das espécies.
Vadiagem
No Brasil, até o ano de 2012 qualquer pessoa que fosse pega pela polícia e não comprovasse um trabalho remunerado, ou se era estudante, poderia ser preso por vadiagem, especialmente os negros e periféricos. Felizmente o crime foi retirado do código penal e esse ato racista do estado brasileiro foi superado, ao menos em relação ao crime de vadiagem. Porém, parece que os deputados estaduais resolveram adotar o termo como prática de suas atividades. Na última quinta-feira, a sessão da casa legislativa foi cancelada, após vários parlamentares terem confirmado sua presença e depois saído do plenário. Será que temos assessores confirmando presença de deputados de forma irregular? Isso precisa ser esclarecido pela presidência da ALE/RR. É muita grana para pouco trabalho destes aproveitadores que se chamam deputados. O presidente da casa precisa cortar o ponto dos faltosos.
Bom dia com alegria.
Fábio Almeida
fabioalmeida.rr@gmail.com
Comments