No último domingo vimos o povo ir às urnas, um dever cívico que cada vez mais é distorcido pela compra de votos e pela ressignificação do voto de cabresto. Isso mesmo. O voto em vastas localidades de nossa querida Pindorama é comprado sim. A diferença é a forma de negociação. Olhe! A burguesia negocia contratos, já a classe média, cargos comissionados. A classe trabalhadora negocia grana, até em virtude de sua relação com o candidato ser efêmera. Lógico que essa não é uma prática generalizada, mas que cresce a cada dia.
No entanto, o voto de cabresto vinculado às igrejas neopentecostais transformam-se em uma realidade que distorce a liberdade da escolha, em nome de Deus. Além de contratos, empregos ou mesmo grana recheiam o bolso dos donos do templo e interlocutores do "divino". Essa realidade não é isolada, tornou-se uma busca incessante dos candidatos, inclusive no campo da esquerda, levando a situações esdrúxulas como a briga entre o candidato do MDB e PRTB, São Paulo, sobre quem teria mais pastores ao seu lado.
A bíblia, livro sagrado aos cristãos é rasgada diariamente pelos mercadores da fé que se apresentam como interlocutores de Deus. Em uma das passagens, Jesus afirma que a casa de seu pai não é um comércio, hoje, uma parte significativa dos templos, transformaram-se em uma currutela, onde, a venda principal não são corpos e bebidas, mas a cidadania de homens e mulheres, ludibriados por líderes que negociam suas vidas com candidatos. Os famosos coronéis, lá nos idos do início do século passado, tinham essa prática, reproduzida por templos religiosos na atualidade.
Outra estrutura cresce a cada dia nas eleições. As organizações criminosas, aquelas ligadas ao tráfico, não as lideradas por políticos, passam a disputar espaços concretos na representação do povo, tentam liderar a superestrutura da democracia burguesa. Compreenderam que, dominando territórios e tendo grana para comprar votos, não deviam investir em políticos como os da família Brazão, mas sim, eleger representantes de seu lugar. Várias foram as operações da PF contra candidatos que possuem ligações efetivas com essas organizações criminosas, inclusive em RR. A coisa está tão escancarada que essas estruturas chegam a pichar casas de adversários ameaçando-os de morte. Isso não é uma novidade, mas cresce a cada dia liderada pelo crime organizado.
Essas estruturas mafiosas que lideram o tráfico de pessoas, drogas e armas, além de estruturarem outras redes criminosas como grilagem de terras, prostituição e desmatamento, ou mesmo o genocida garimpo que durante 4 anos desnudou a ineficiência do Estado brasileiro em proteger os povos milenares da TI Yanomami. Lá estavam as máfias do tráfico protegendo os bacanas que estruturam a exploração ilegal de ouro no Couto de Magalhães. O que buscam?
Na prática garantir a consolidação de um narcoestado, onde não exista problemas aos esquemas criminosos - estrutura usufruída hoje apenas pelas máfias corruptas que se organizam no Estado para roubar dinheiro público - além de terem a polícia controlada pelos interesses de seus negócios e um judiciário que permita punições mais brandas, quando houver necessidade de mostrar que a democracia burguesa não é corrompida pelo crime.
Além desse grave quadro eleitoral que amplia significativamente a representação empresarial e da direita brasileira, vivemos uma crise ideológica na esquerda - hoje envergonhada autodenominasse progressistas, ou seja, vinculam-se nominalmente ao partido do Lira - que não possui claramente um contraponto eleitoral contra o Estado burguês - quem aoresenta essa crítica é a direita e a extrema-direita - , na grande maioria dos partidos registrados. Outra parte tenta sobreviver falando internamente sob as hostes conjunturais e sociais do início do século XX.
Na realidade temos uma representação “progressista”, ou melhor social-democrata, que se rendeu aos encantos do neoliberalismo e seu programa privatizante do Estado. Nos dias de hoje, após os monopólios e cartéis que se organizaram na economia brasileira, querem os burgueses a privatização dos serviços públicos de saúde e da educação. Aos pobres “vouchers” que permitirão o menino da favela estudar na escola privada do Caçari?
O resultado eleitoral potencializa a capacidade de votos que a direita e a extrema-direita terão em 2026, ampliando transformações sociais que nos levarão à década de 1950, quando o pobre, era atendido como indigente, se não possuísse carteira de trabalho na áreada saúde. O SUS mudou essa realidade, mas corre sério risco com a capilaridade de defensores do Estado Mínimo que pululam por todos os rincões na ânsia de aprovar a mineração em terras indígenas e a privatização do ensino superior.
Os dados demonstram que as pessoas brancas continuam a hegemonizar a administração pública. Entre os eleitos, para exercer o cargo de Prefeito em 2024, 66% se declararam brancos, apenas 2% são pretos. Os indígenas representam apenas 0,16% dos prefeitos eleitos. Parte deste percentual se encontra em Roraima com o Tuxaua Benício (Rede) que conseguiu se reeleger, ao mesmo tempo que derrotou o governador cassado, Antônio Denarium, e garantiu a única gestão nas mãos do “progressismo”.
Apesar de no Estado de Roraima termos ampliado o número de mulheres nas câmaras de vereadores, um ganho importante neste Estado machista, as pautas conservadoras recheiaram boa parte dos discursos políticos dessas parlamentares na campanha. No entanto, 84% dos eleitos domingo foram homens, demonstrando que o recorte eleitoral além de ser étnico é de gênero, reproduzindo uma estrutura patriarcal que impele maiores dificuldades ao nosso povo trabalhador. Uma novidade foi o aumento de 115% de pessoas LGBT eleitas ao parlamento, muitos no entanto por partidos de direita.
A crise na esquerda roraimense
Em Roraima, os resultados demonstraram uma hegemonia da direita, apenas 6 vereadores e um prefeito foram eleitos, nenhum na capital. Esse quadro demonstra a necessidade destes partidos saírem do obscurantismo e passarem a assumir posições políticas concretas. Em outros momentos teci análises sobre a necessidade da unificação partidária em temas que convergem, caso contrário, veremos a cada ano a diminuição dessas representações. No entanto, não é a mera renovação diretiva do partido que permitirá mudanças, a participação do PSOL/BV deixou isso claro. Necessitamos de partidos que enfrentem os dilemas concretos da vida da classe trabalhadora, o distanciamento político dos partidos do efetivo fosso social que separa os mais ricos e os mais pobres necessita ser uma pauta permanente em Roraima. A luta ambiental, de gênero, indígena, mulheres não deve ser renegada, em favorecimento de uma pauta econômica, mas não pode continuar a ser construída sem um viés classista.
O mamulengo voltou
A eleição de Artur Henrique representou um bastião de sobrevida a família Jucá, derrotada fragorosamente nos demais municípios roraimenses. Esse é um avanço político importante em nossa cidade e no Estado, começamos a nos livrar de um dos grandes males da política em nosso Estado. A incógnita existente é se com a capilaridade eleitoral conquistada e com o apoio explícito de Bolsonaro, o atual Prefeito de BV tentará voos solos. A eleição de 2026 poderá permitir a consolidação de um novo grupo político, com Artur ajudando a consolidar novas frentes, no campo da direita, podendo inclusive ser a mola propulsora de uma aventura de alguém da família do ex-presidente nas terras de Makunai’mî, em detrimento de seu apoio a Teresa Surita que sonha ser governadora. No mais veremos a continuidade de uma gestão capenga que possui laços escusos na gestão de contratos públicos e é ineficiente ao promover a melhoria da qualidade de vida de nosso povo.
A derrota de Denarium
Incapaz de promover lideranças políticas, Antônio Denarium, o Cassado, submeteu seus interesses eleitorais, em 2026 - já que a perda de direitos políticos já foi negociada em Brasília, no processo de cassação que se encontra no TSE - ao senadozinho Mecias de Jesus, na prática um grande erro político. Mas, sua principal derrota foi a incapacidade de manter sua sobrinha como vereadora, a parlamentar Juliana Garcia não conseguiu garantir seu retorno, demonstrando o declínio objetivo da suposta liderança política do governador. Outro que saiu derrotado foi o senador Chorão que não conseguiu emplacar seus nomes, ganhando apenas o município de Cantá, mas lá, o Prefeito havia consolidado seu retorno em virtude do grupo que estruturou e de uma gestão que permitiu a urbanização de vilas importantes do município, apesar de seu governo ser recheado de denúncias nunca investigadas.
Parlamentares em BV
Elegemos 23 parlamentares hegemonicamente de direita para exercer por 4 anos a representação de nossos anseios. Apesar da renovação parlamentar, a maioria dos eleitos representam interesses paroquiais de deputados estaduais ou federais. Mas, terminamos o domingo com dois dos vereadores eleitos, em BV, presos pela polícia federal em virtude de infrações eleitorais e outros crimes federais. As maiores bancada eleitas se encontram no Republicano, MDB e PP, demonstrando que viveremos tempos difíceis no tocante a ampliação de soluções administrativas que podem ampliar o ganho de empresários como a terceirização de serviços públicos.
MDB/RR propõe suspensão de benefícios sociais
Reproduzindo o conteúdo de um projeto de Lei aprovado pelo congresso nacional que se encontra sob análise do STF, o partido, signatário do documento a Ponte para o Futuro, propõe que qualquer cidadão ou cidadã que participe da ocupação de imóvel rural ou urbano, mesmo que esse não tenha função social como determina a Constituição, tenha suspenso, por 1 ano, qualquer benefício de assistência social que receba, o mesmo ocorrerá se a pessoa em um protesto dificultar a entrada de pessoas em suas propriedades. Idazio da Perfil que se define como liberal busca atingir diretamente o processo de luta do povo, ao proteger os interesses de uma elite agrária e especuladora, em detrimento da classe trabalhadora. As pessoas inscritas em programas sociais já se encontram vulneráveis. Idazio quer com esse projeto, que pode ser avaliado hoje, ampliar as desigualdades e a vulnerabilidade das pessoas. A punição não deve ser essa, pode seguir outros caminhos que induzam a redução de ocupações. A procuradoria da ALE/RR apontou que o objeto é inconstitucional, vejamos o que dizem os parlamentares.
A morte de jornalistas
Ontem, completou-se um ano do terrível ataque do Hamas na fronteira sul de Israel. O fato político que comoveu o mundo não pode ser descontextualizado das ações sionistas dentro da Faixa de Gaza, entre janeiro e outubro, do ano de 2023, as forças militares israelense haviam matado cerca de 200 palestinos. A violência é uma marca concreta daquela região, em virtude da ação colonizadora que mantém o sionismo israelense. Desde o dia 08/10/2023 já são mais de 41 mil palestinos assassinados, entre os mortos encontram-se 126 jornalistas que cobriam os ataques do governo israelense. Organismos internacionais já apontam que o massacre de Israel - pois não é compreensível defini-lo como uma guerra, pois do outro lado não existe uma força militar organizada - figuram como o mais violento contra os profissionais da imprensa.
Bom dia, com alegria.
Fábio Almeida
Comments