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Foto do escritorFabio Almeida

06/02/2023

A política sempre foi um espaço de conflitos. Interesses diversos, muitas vezes republicanos, outras nem tanto, constituem a lógica permanente de disputa de interesses de classe. O parlamento e as eleições burguesas marcaram nas últimas décadas como principal espaço da contenda eleitoral no Brasil e na maioria dos países que integram a América Latina.


O advento das redes sociais permitiu uma nova lógica na disputa política. Foi ultrapassada a política dos corredores dos palácios ou dos parlamentos, abrindo espaços para que o povo possa formatar seus interesses e mobilizar pessoas. Lógico, os interesses da elite política e empresarial continuam a pautar a luta política na grande maioria dos lugares, porém, a capacidade de ampla mobilização de massa permite que parcelas do povo se organizem em torno de ideias, promovendo ações muitas vezes violentas.


Uma das principais ferramentas de trabalho destas frentes mobilizadoras possuem como suporte narrativas baseadas em notícias falsas – conhecidas popularmente como fake News – principalmente quando os objetivos postos são pautados pela extrema direita fascista que se avoluma em nossa região. O Paraguai, a Bolívia, o Equador e Argentina são exemplos de países que enfrentaram esse processo de disputas políticas que mobilizaram massas nas ruas, promovido por alianças da direita com a extrema direita.


Recentemente no Brasil vivenciamos um ato com demonstração da capacidade destrutiva das pessoas. As sedes dos 3 poderes da República foram depredadas de forma contundente e organizada, por meio de uma insígnia objetiva, a denúncia do processo eleitoral. Essa nova marca para conturbação do poder político conquistado nas urnas, supera outra reinante na América Latina, o impedimento presidencial, protagonizado por parlamentos comprometidos com interesses, muitas vezes divergentes dos anseios da população.


Noutro campo encontramos a mobilização popular em torno de mudanças na condução das políticas do Estado, essas mobilizações possuem cunho socialdemocrata e da esquerda revolucionária. Utilizando como ferramentas de diálogo as redes sociais. Neste campo o combate à fome, a falta de acesso à educação e saúde, combate ao desemprego e busca de retomada de estruturas produtivas entregues a multinacionais marcam as postagens mobilizadoras.


O Peru enfrenta na atualidade uma grave crise de legitimidade do poder político. Eleito em 2021, um Presidente socialdemocrata, com princípios conservadores no tocante a moral, identificado com interesses políticos de indígenas e pobres, na campanha sustentou uma plataforma política sobre a premissa de entrega do controle político de minas extrativistas aos indígenas, além de melhoria de acesso aos serviços públicos.


A marcha sobre Lima, como é chamada a grande movimentação de pessoas das áreas rurais em direção a capital peruana, contesta o impedimento, do presidente eleito em 2021, aprovado pelo congresso, em 07/12/2022 e a nomeação da vice-presidente. Clamam por novas eleições imediatas, mobilizada nas redes sociais a manifestação de massa consagra uma nova crise política neste país andino, terra dos Incas, mais também, de uma elite golpista, ligada ao antigo ditador Alberto Fujimori.


A ação das forças armadas e as dezenas de mortes computadas marcam a truculência do Estado burguês contra o seu povo. A decretação em 7 regiões do país, neste domingo de Estado de Exceção ampliará a lógica dos conflitos. As regiões mais conflagradas possuem toque de recolher decretado e todos os direitos civis foram suspensos. A crise poderá transformar-se em uma nova onda de assassinatos de indígenas.


Neste contexto de fragilidade representativa da democracia burguesa, instituição das reformas burguesas implementadas entre o século XVIII e XIX, a disputa pelo modelo do Estado se conflagra como uma necessidade da coletividade. A democratização do acesso a informação, promovida pelas redes sociais, possibilita uma maior capacidade de mobilização das pessoas.


No Peru ocorre uma disputa pelo poder político e econômico, estruturado em torno da perspectiva de classe. Não se encontra em jogo a implantação de um Estado socialista, mais sim, a construção de um Estado socialdemocrata, contra a lógica neoliberal implementada por Fujimori, durante seus anos ditatoriais. O principal foco do levante dos povos, especialmente os indígenas, consiste na defesa da autodeterminação de seus territórios, em sua grande maioria entregues a exploração mineira por oligopólios internacionais.


Portanto, o levante popular, a marcha dos povos sobre Lima, possui grande diferença com os atos praticados em Brasília. Enquanto uma horda de pessoas em Brasília marchou em defesa do neoliberalismo, no Peru marcham em defesa de um Estado socialdemocrata. Aqui o protagonismo seria dado a burguesia, por lá a lógica é a classe trabalhadora assumir seu papel de protagonista político, econômico e eleitoral.


Essa realidade distinta entre as duas nações ocorre devido a tomada de consciência de classe de vários segmentos da classe trabalhadora, cansadas de serem exploradas, verem seus filhos e filhas serem assassinadas, observarem a fome como uma política estrutural de dominação política, fundamentada numa ampla aliança colonialista.


Neste momento, a América Latina encontra-se em ebulição, em um campo a direita e a extrema direita aliadas na defesa da continuidade da política de subserviência do Estado aos interesses da burguesia. Em outro campo a esquerda propondo uma nova lógica de reorganização social, onde a promoção da vida, do respeito e da solidariedade sejam princípios norteadores do Estado. O pêndulo deste processo são os sociais-democratas que oscilam entre os dois caminhos.

 

FUGA DO GARIMPO ILEGAL

Garimpeiros começam a sair da TI Yanomami em virtude dos anúncios do Governo Federal da realização de operações com as forças armadas para desintrusar a região. Nos últimos dias bloqueios aéreos e aquáticos dificultam a chegada de alimentos nas regiões garimpeiras, impondo corretamente um processo de desabastecimento das localidades. Essa nova realidade impulsionou a movimentação de pessoas que gravam vídeos e espalham pelos diversos grupos sociais que dão suporte ao garimpo. A saída espontânea é importante para se evitar conflitos com maiores proporções e mais sangue de seja derramado.

A grande questão é enfrentar o quadro de milhares de desempregados na capital de Boa Vista. O Estado necessitará de uma ação emergencial de suporte as famílias, inclusive com garantia de passagem para todas as pessoas de outros Estados que vieram atuar no criminoso garimpo da TI Yanomami. Uma ação de assentamento de pessoas em projetos de agricultura familiar também consiste em um sólido caminho a ser observado, além de uma ação de qualificação de mão de obra para que as pessoas possam se inserir no mercado de trabalho. Muitos dos que lá estão são jovens, portanto precisamos olhar para essas pessoas.

 

CONDISI DENUNCIA MORTE...

De 3 indígenas na região do Homoxi. Essa é uma área do garimpo criminoso e ilegal que se avolumou dentro da TI Yanomami, localidade no Governo Bolsonaro o controle estatal do espaço nacional deixou de existir. As equipes de saúde deixaram de entrar na localidade em novembro de 2021, tendo em vista que a pista de pouso passou a ser controlada por garimpeiros. O posto de saúde fechou, a região sofreu com tiros, bombas e ataques de garimpeiros que levaram a morte de indígenas. A movimentação de milhares de homens cria novos ricos de massacres de indígenas, nessa movimentação voluntária dos garimpeiros em fuga da terra indígena, o resultado pode ser trágico às comunidades indígenas.

 

CASAS POPULARES VAZIAS

O Governo que terminou extinguiu um dos maiores programas de casas próprias para pessoas de baixa renda. O Minha Casa Minha Vida entregou milhares de imóveis por todo o país, em Roraima seus principais conjuntos são o Pérola e o Vila Jardim. Porém, 1.115 empreendimentos que totalizam mais de 130 mil imóveis encontram-se com obras paralisadas ou inacabadas, por todo o país, especialmente no Nordeste. Existem contratos vigentes desde o ano de 2009, com obras nunca concluídas. É inadmissível que Governos não implementem ações do Governo anterior. As diferenças ideológicas entre o último e o atual governante podem acirrar disputas políticas, mas é inconcebível que essa contenda imponha a milhares de famílias uma espera sem fim, do sonho da casa própria, imposto por Bolsonaro.

 

JUROS CONTINUAM NO ESPAÇO

Campos Neto, aquele liberal de Wall Street, conseguiu convencer Bolsonaro de que era o melhor nome para presidência do Banco Central do Brasil – a Lei Complementar 179/2021, dispõe sobre a autonomia do BC, bem como sobre a nomeação e exoneração do Presidente do banco público. Na última quarta-feira, o BC manteve os juros em 13,75% ao ano, a prática deste patamar promove uma projeção de recessão, no país. Tanto o Governo, quanto empresários afirmam que os dados econômicos permitem uma política de redução dos juros.

O Brasil é um dos poucos países do mundo que utiliza uma cartilha do FMI para conter a inflação. O aumento da taxa de juros impede a circulação de capital e reduz forçosamente a tendência de alta dos preços. Essa é uma política equivocada, pois deteriora o sistema produtivo que possui o crédito restrito e consequentemente reduz emprego, num país que já vive com grande patamar de pessoas desempregadas, desalentadas ou mesmo subutilizadas.

Nesta quadra entre o papel impulsionador do Estado e o fiscalismo neoliberal, o Governo Federal avalia a possibilidade de encaminhar ao Congresso o pedido de demissão do Campos Neto. O artigo 5° da legislação estabelece as formas de exoneração do presidente do BC, uma das propostas prever que o desempenho insuficiente é passível de demissão. Para percorrer esse caminho seria necessário o Conselho Monetário Nacional (CMN) encaminhar uma carta ao Presidente pedindo o afastamento da pessoa, posteriormente o Senado avaliaria o pedido. Não é possível reequilibrar as contas com a continuidade desta política desastrosa do BC que remunera cada vez mais bancos e especuladores financeiros.

 

A IDEIA É FINALIZAR A FILA

O Governo Lula lançará as 15h um programa que prever a redução do número de pessoas que se encontram em filas esperando por uma cirurgia. O programa será organizado em duas dimensões, a primeira será a emergencial que prever o aumento imediato de cirurgias, exames e consultas especializadas. A segunda fase consiste em uma dimensão estruturante que preconiza reformulação dos sistemas que coordenam as filas para cirurgias, melhorar o sistema de regulação e qualificação da atenção primária. Inicialmente o programa contará com investimentos de R$ 600 milhões, priorizando cirurgias abdominais, ortopédicas e oftalmológicas. A previsão diferentemente da proposta do Governo anterior irá fortalecer o atendimento nos equipamentos de saúde existentes nas esferas estaduais e municipais. Esperamos que o processo de cuidado seja idealizado de forma sustentável e aja transparência na aplicação dos recursos.

 

MORTES NÃO PODEM SER PIADA

Prática adotada por um cantor local ao saudar a boate Kiss quando um dos integrantes da banda segurava fogos de artifício no palco de uma festa de aniversário que se realizava no bairro Caçari. Em um show na boate utilizada como deboche pelo cantor, morreram 242 pessoas, boa parte delas com queimaduras e falta de ar. É lamentável que necessitamos continuar a ouvir deboche com a vida e o sentimento das famílias afetadas. O cantor deveria ser penalizado por usar produtos perigosos no palco da apresentação.


Bom dia. Um forte abraço

 

Fábio Almeida

Jornalista e Historiador

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