A geopolítica é repleta de surpresas, uma delas consiste no declínio da Organização das Nações Unidas (ONU), forjada para que pudéssemos estabelecer o consenso dialogado como ferramenta de superação de conflitos, aparece como coadjuvante, submetendo-se principalmente aos interesses dos EUA.
Por anos a fio, após a dolorosa segunda grande guerra fruto dos arroubos sanguinários dos nazistas e sua preleção pela hegemonia mundial dos arianos, os países se organizavam por áreas de influência, de um lado a experiência capitalista de mercado representada pelos EUA, de outro o capitalismo de estado representado pela URSS. Ao redor destas duas forças.
Nestes tempos o consenso era mais fácil, pois representava os interesses dos líderes dos blocos econômicos e armamentistas, onde circundavam os países. Com a potencialização do sistema produtivo e concentrador de renda capitalista forjam-se novos atores econômicos que passam a produzir interesses internos que visam ampliar a influência geopolítica, portanto, o multilateralismo assume cada vez mais um papel central na ONU, mas, sua lógica de organização fadada no interesse de cinco países e sustentada pelas armas de destruição, demonstra sua incapacidade de construir elos humanitários.
Uma guerra possui como principal ferramenta propulsionadora os interesses econômicos. Assim, foram os ataques estadunidenses, sem aval da ONU, infringindo os princípios da carta da organização contra o Iraque, contra o Afeganistão, ou contra a Síria, os princípios humanitários apresentados sobrepõem publicamente os reais interesses econômicos e a capacidade de formação de capital pela indústria bélica, fator essencial aos estadunidenses e sua capacidade produtiva pública e privada. Guerras geram lucros.
A expansão da OTAN em direção ao território russo consiste em um grave erro geopolítico, porém o direcionamento de mísseis nucleares, dispostos na Polônia, são a face clara e bela da disputa pelo fornecimento de gás na Europa, implementada pela Rússia e EUA. Desta forma, a Ucrânia, consistia em uma peça estratégica no tabuleiro, aos estadunidenses interessam o fechamento do cerco bélico, já para os russos a capacidade de influenciar a produção local de gás. Lembremos que o filho de Biden operava, até pouco tempo, diretamente a comercialização de gás em território ucraniano.
A Europa recentemente assumiu que transformaria as termoelétricas a gás em energia verde – apesar de não serem – a fim de encerrar com as atividades das termoelétricas a carvão, muito poluidoras e agressivas ao meio ambiente. Essa medida significa até 2050 um mercado de trilhões de dólares disputados entre EUA e Rússia. A força imperial das armas consiste em concertar imposições, assim é a lógica da acumulação de forças produtivas ou mesmo de matérias primas.
Porém, temos um detalhe que não podemos deixar passar despercebido e que atormentam os russos, enquanto europeus ocidentais e estadunidenses fecham os olhos, consiste no crescimento de grupos neonazistas em todo o mundo, especialmente na Europa oriental. Em 2014, a Ucrânia sofreu um golpe de Estado, promovido por lideranças diretamente ligadas a partidos totalitários que oprimem russos e imigrantes. Essa turma foi e é apoiada diretamente pelos EUA, com grana e armas. Essa realidade não pode deixar de ser observada, devendo ser combatida pela ONU, que se cala diante das opressões quando os interesses estadunidenses são garantidos ou prospectados.
Veja! Comprovadamente o Qatar, local da próxima copa do mundo, utilizou trabalho escravo na construção de seus estádios e infraestrutura geral, qual a concertação feita pelos países da ONU para superar isso? Nada! Ou mesmo, aos massacres impostos contra russos na região de Donbas, na Ucrânia, possuiu que condenação da ONU? Nenhuma. Enfim, os interesses da ONU possuem lado concreto, pois em nenhum momento chegou a repudiar o reconhecimento por países membros de um Presidente não eleito com voto popular na Venezuela.
Enfim, a ONU sofre uma crise efetiva, necessitando de uma refundação, a qual deve ser pautada na multilateridade dos países membros, onde ambientes e contradições internas devem ser resolvidas pela entidade, preservando a autodeterminação dos povos. Posições totalitárias, a exemplo das adotadas por Israel na Cisjordânia e Gaza, devem claramente ser combatida. O fim do conselho de segurança da ONU, da Otan e a limitação dos gastos em segurança devem ser uma premissa mundial. Não haverá respeito as nações com a atual corrida armamentista.
Outra questão urgente de ser observada condiz aos bloqueios econômicos impostos por nações de forma isolada ou não contra países, tendo como base seus interesses regionais. Venezuela, Cuba e Irã sofrem bloqueios unilaterais impostos pelos EUA. Essa prática deve ser repudiada, pois consiste em um efetivo ataque a um pais membro, algo inadmissível. O mesmo deve ser observado quanto a Rússia e sua escalada imperialista, contra o solo ucraniano.
Os EUA imporão bloqueios econômicos aos russos, resguardando a continuidade de importação de alumínio e petróleo, enquanto interesses comerciais de outras nações, a exemplo da dependência do Brasil de nitrogenados, especialmente potássio necessário a agricultura, não foi observada. Atos unilaterais que prejudiquem as nações sejam por ação bélica ou não, devem ter aprovação efetiva da Assembleia da ONU, sem direito de veto a ninguém, respeitando a autodeterminação dos povos.
O modelo ocidental de organização política e produção não pode ser referência a uma entidade multilateral. A defesa dos direitos humanos deve ser referência à condenação de nações por atos ou apoio indireto a atos que promovam crimes contra a vida. A orquestração da refundação da ONU consiste em uma necessidade imediata, caso contrário sua fragilidade imporá um novo processo de organização de forças, estabelecendo polos concentradores de poder econômico e armas, enfim, retomamos os idos de 1912, como forma de orquestração das nações.
Esse quadro é muito perigoso, principalmente diante da capacidade destruidora das armas, potencializadas por meio do desenvolvimento tecnológico que permite inclusive a adoção de robôs soldados e aeronaves com autonomia de reconhecimento e disparo. A lógica guerreira deve ser superada.
A ONU continua sendo um espaço plausível de superarmos a guerra como caminho a solução de conflitos, para isso, no entanto, precisamos ir muito além de súplicas e subserviência, necessitamos compreender que precisamos defender a vida, a partir de um novo ordenamento econômico e político que supere as desigualdades de renda e riqueza existentes no mundo.
FORA JALSER
A conclusão do processo de cassação do ex-deputado possui uma carga simbólica enorme, pois imporá uma mobilização social para que os parlamentares possam agir com mais cuidado. Nos livramos de um escroque que fazia muito mal a sociedade roraimense. Agora, mudou a realidade? Não, em minha opinião.
Ontem, o Deputado Sampaio, eleito Presidente da Casa falou em gestão pacificadora, não acredito nisso, a gestão do legislativo estadual é submissa aos interesses do Governo Estadual, não há autonomia alguma em defender interesses do povo, apenas defender os interesses dos negócios estabelecidos.
O afastamento do Jalser é uma conquista, mas não enfrenta a esculhambação da gestão bilionária na ALE/RR, forjada na ausência de transparência, em contratos com empresas muitas vezes sem capacidade técnica e nas famosas rachadinhas, estrutura que percorre o parlamento estadual, desde o esquema dos gafanhotos, ampliado agora para atendimento de interesses de empresários que dão sustentação política ao Governo Denarium.
O terrível é ver os parlamentares em suas mais ousadas hipocrisias colocar o nome de Deus como fundamento de sua atuação política. Não respeitam a laicidade do Estado brasileiro, ao vincularem seus atos aos interesses de religião A ou B. Comprometendo desta forma uma efetiva representação da sociedade em sua coletividade. Porém, a mentira é um pecado capital.
É preciso que os outros casos de quebra de decoro também sejam encaminhados, temos um Deputado e uma Deputada que respondem processo por liderar organização criminosa para roubar dinheiro do Estado. Outros dois tiveram os mandatos casados por compra de votos na eleição. Outro responde a processo por estupro, um outro responde a vários processos por agressão a mulheres e assédio moral. Estes outros casos terão seus processos abertos, ou a quebra de decoro possui perfil específico para que os doutos parlamentares iniciem o processo de cassação?
REFÚGIO UM DIREITO PARA TODOS
Refugiados das guerras impostas a Síria, Afeganistão, Líbano e Iraque são recebidos com cercas de arame farpado e homens das forças de segurança armados, sendo identificados como uma crise migratória, algo ruim que irá impor sérias consequências à sociedade. Mas, a relação diante dos refugiados ucranianos é outra. O próprio Presidente brasileiro que possui um discurso forte contra a imigração venezuelana, foi ontem a imprensa dizer que autorizará o visto humanitário para todo ucraniano que quiser vir ao Brasil.
Por que os venezuelanos e haitianos não possuem direito a este visto? Essa seletividade demonstra como o preconceito de raça ainda impera no mundo, um branco europeu em situação de refúgio é recebido de braços abertos pelos países da ONU, já os latino-americanos, africanos, afegãos, iraquianos e sírios são vistos como problemas, encarcerados muitas vezes em jaulas, como vimos na operação acolhida em RR e nos EUA, na fronteira com o México. Esse corte xenofóbico das nações precisa ser enfrenado de cabeça erguida.
HORA TRABALHADA E O NOVO SISTEMA
O Governo Federal, por meio do Ministério do Trabalho e Previdência, resolveu alterar o modelo de registro de horas trabalhadas, nas empresas e órgãos públicos. O Brasil adotava o modelo de registro de ponto através do equipamento Registrador Eletrônico de Ponto Convencional (REP-C), sistema auditável, aprovado pelo IMETRO e com disponibilidade de entrega de comprovante ao trabalhador dos registros realizados. O Governo impõe o modelo Registrador Eletrônico de Ponto Via Programa (REP-P), o sistema é criticado por organizações sindicais e magistrados devido a fragilidade e a possibilidade de alteração dos dados registrados, armazenados em nuvem.
A certificação da inviolabilidade do sistema deixará de existir, passando apenas a valer uma declaração do empregador que pode adquirir qualquer uma das dezenas de programas disponíveis no mercado, a contenção de abusos conquistado com o sistema anterior, deverá ter novo crescimento com horas não pagas. Lembro que desde a reforma trabalhista de Temer quem tem que comprovar é o trabalhador as horas trabalhadas e não pagas, como o fazer se o empregador pode alterar os registros e o novo sistema não disponibiliza comprovantes de registro ao trabalhador.
BINGO E CASSINOS.
A câmara dos Deputados em mais uma demonstração de força do PP aprovou a proposta que regulamenta e descriminaliza a oferta de casas de jogos no Brasil. A proposta prever a regularização do jogo do bicho, a instalação de casas de bingos e cassinos por todo o território nacional. O argumento dos apoiadores consiste na defesa de que essas instalações irão gerar empregos e possibilitar ampliação do turismo. Os contrários à proposta que avançaram além do pecado como ferramenta de retórica, apontam que a destinação de recursos para apostas irá prejudicar outras cadeias produtivas, principalmente as estruturadas pela imposição da informalidade que atinge a classe trabalhadora no setor de serviços, única ferramenta para sobreviver.
MÁFIA E GARIMPO
A desestruturação da capacidade de fiscalização dos órgãos ambientais promovida pelo Governo Federal, somada a autorização tácita do Governo em formalizar o garimpo em terras indígenas e reservas ambientais promove uma associação perigosa entre o crime organizado, garimpeiros e empresários na busca por metais. A situação vivida em várias partes da Amazônia, em especial na TI Yanomami, demonstra que a fragilização das ações do Estado, permitiu que facções criminosas e milícias passem a controlar vastas regiões, ganhando dinheiro não apenas com a estrutura criminosa do garimpo ilegal de ouro e outros minerais, mais também, com drogas, prostituição e armas.
Além disto, determinadas áreas de atuação destes grupos organizados estão sujeitas a pagamentos de pedágios, impondo a indígenas e ribeirinhos a cobrança de taxas para poderem circular pelos territórios, como ocorre na região do paredão em Roraima. Precisamos urgentemente enfrentar esse quadro caótico que além de impor riscos ambientais, a saúde de nosso povo, permite a criminosos fortalecerem seus laços de opressão a membros da sociedade, ampliando consideravelmente suas capacidades financeiras. O Estado brasileiro precisa sair deste quadro letárgico que permite o fortalecimento de estruturas criminosas no interior de nossas florestas.
BOM DIA COM ALEGRIA
Comments